Em um movimento inédito no âmbito da regulação da IA, 53 representantes empresas europeias enviaram uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, solicitando a suspensão por dois anos do cronograma de implementação da Lei de IA (AI Act), cuja aplicação está prevista para começar em 1º de agosto.

Divulgada pela EU Champions Initiative, coalizão em prol da adoção de IA e do fortalecimento do mercado competitivo, a carta reúne executivos de empresas como Airbus, Siemens Energy, Mercedes-Benz, TotalEnergies, Adyen, BNP Paribas, Mistral e Publicis. O denominador comum entre as empresas é que elas atuam em setores estratégicos como aviação, energia, finanças, saúde, logística e e-commerce, ou seja, áreas diretamente impactadas pelas novas regras.

O documento pede que a Comissão aperte os freios na regulamentação em curso, congelando os prazos estabelecidos e as obrigações previstas para começar em agosto deste ano, no caso da inteligência artificial de uso geral, e, no mesmo mês do próximo ano, para os sistemas classificados como de alto risco, até que sejam definidos os padrões técnicos e os códigos de conduta.

O perfil das empresas envolvidas evidencia justamente setores que dependem do uso da inteligência artificial em suas operações. A Airbus, por exemplo, usa IA no processamento de imagens via satélite. No setor de energia, empresas como Siemens Energy e TotalEnergies aplicam algoritmos para otimizar processos e reduzir emissões. No varejo, plataformas de e-commerce como o Carrefour dependem diretamente da IA para gestão e logística.

Os signatários da carta reforçam que o objetivo não é impedir a regulação, mas permitir que as empresas tenham tempo para se adaptar ao novo cenário. Também expressam preocupação com a possibilidade de o AI Act frear investimentos no bloco europeu.

A carta tem peso simbólico, mas também chega em um momento estratégico, já que as regras práticas da lei ainda estão sendo definidas.

Apesar da pressão, a Comissão Europeia rejeitou o pedido. Em 5 de julho, o porta-voz Thomas Regnier afirmou não haver essa possibilidade. “Não há ‘stop the clock’. Não há período de carência. Não há pausa”, disse.

E ressaltou: “Temos prazos legais estabelecidos em um texto legal. As disposições começaram em fevereiro, as obrigações para modelos de IA de propósito geral começarão em agosto e, no próximo ano, teremos as obrigações para modelos de alto risco, que entrarão em vigor em agosto de 2026”.