Diante da perspectiva de acirramento das tensões comerciais entre China e Estados Unidos a partir de 2025, após a posse do presidente eleito, Donald Trump, a visita do líder chinês, Xi Jinping, a Brasília nesta semana foi, sem dúvida, uma vitória da diplomacia brasileira e uma sinalização ao mundo de espaço para estreitamento das relações entre os países não só na área agrícola, mas também em infraestrutura, transformação energética e telecomunicações entre outras. Os 37 atos assinados (veja abaixo) nesta quarta-feira, 20, durante o encontro de Lula com Xi são prova disso. Mas o governo brasileiro já tem claro que precisa diversificar suas relações comerciais, reduzindo a concentração da pauta de exportação com as duas maiores potenciais globais.
China e Estados Unidos, ao lado da União Europeia, são os maiores destinos dos produtos e serviços brasileiros no exterior, respondendo por mais de 55% das exportações brasileiras. Desde 2009, a China é a líder, com cerca de 30% de tudo o que é vendido para fora do Brasil. Nessa vinda ao Brasil, Xi Jinping fez um gesto importante e muito comemorado pela diplomacia brasileira. O líder chinês, tradicionalmente, não participa das reuniões do G20, grupo das maiores economias no mundo. É costume que o primeiro-ministro cumpra esse papel. Do encontro sob a liderança brasileira, ele fez questão de participar. “Não foi um gesto pequeno”, celebra um integrante do governo brasileiro, que acompanhou de perto as negociações.
É claro que o Brasil quer ser próximo da China. Desde que se tornou nosso maior parceiro, segundo dados oficiais, o comércio quadruplicou. No ano passado, as exportações para a China fecharam US$ 20 bilhões acima da soma do total exportado para Estados Unidos e União Europeia e está perto de superar, também, o montante que inclui as vendas para o Mercosul.
Temor com dependência O sucesso de venda, no entanto, também fez acender o sinal de alerta e crescer dento do governo o temor de uma dependência excessiva da China. A pauta de exportações brasileiras para a China está muito ancorada em comida (produtos agrícolas, especialmente soja). A China, por sua vez, vem num esforço crescente para aumentar a sua própria produção e o cenário ganha outros contornos quando entra em campo a biotecnologia, com capacidade de gerar ganhos de produtividade.
Vem daí a recomendação dos técnicos do governo para avançar nas negociações com outros países. Segundo eles, a parceria para investimentos em infraestrutura é muito bem-vinda num momento em que, mais do que nunca, o Brasil precisa aumentar a competitividade de seus produtos. O custo para escoamento desses seus produtos para o exterior é outro fator chave. A China oferece ajuda, incluindo no pacote seus projetos de infraestrutura.
Então, seria óbvia a adesão do Brasil à chamada “Nova Roda da Seda”, como ficou popularizado a mega iniciativa chinesas para investir em países que topem ser seus aliados? Nesse caso, segundo diplomatas brasileiros, o Brasil ainda vê a ideia com ressalvas, apesar da pressão de Pequim. Primeiro porque não quer ser incluído, como mais um, no bloco de países que já fazem parte da iniciativa -- isso poderia levar à perda de voz e influência nas negociações. Além do mais, o governo brasileiro quer evitar que essa participação prejudique a relação com outros países, especialmente Estados Unidos e os da União Europeia, que travam com a China uma disputa ferrenha pela supremacia geopolítica no planeta. “Com o Brasil a conversa tem que ser diferente, e tem sido”, diz o diplomata.
Conheça, a seguir, todos os assinados entre Brasil e China durante visita de Xi Jinping:
Xi Jinping foi recebido nesta quarta-feira no Palácio do Alvorada, em uma cerimônia repleta de pompa. Ele também foi homenageado em um jantar com a partipação dos chefes dos três poderes. No ano passado, Lula recebeu homenagens semelhantes em uma visita de Estado a Pequim.