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Erdogan aproveita relação com Trump para se fortalecer na Turquia

Presidente da Turquia há mais de uma década, Erdogan busca o estreitamento dos laços com os Estados Unidos desde administrações americanas anteriores

Foto: Shealah Craighead/Divulgação/Casa Branca
Foto: Shealah Craighead/Divulgação/Casa Branca

Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, tem aproveitado a força de Donald Trump e sua relação com o presidente americano para se fortalecer dentro do seu próprio país. Os dois conversaram por telefone recentemente e Erdogan tenta marcar um encontro na Casa Branca. Enquanto isso, o principal opositor do turco, Ekrem Imamoglu, prefeito de Istambul, está preso desde a última quarta-feira, 19.

De acordo com uma declaração da Diretoria de Comunicações da Turquia, o líder turco crê que o estreitamento dos laços entre os dois países é crucial para a estabilidade regional, porque Ancara, capital da Turquia, busca um papel maior na mediação de conflitos como o da Ucrânia e da Síria.

Enquanto articula um discurso de cooperação com o governo Trump, Erdogan é alvo de protestos na Turquia. A poucos dias de confirmar candidatura à presidência na sigla oposicionista, Imamoglu (foto abaixo) está na prisão. Apoiadores dele ou estão nas ruas para protestar ou também estão sendo detidos por postagens indignadas nas redes sociais, que o governo tacha de “provocativas e incitadoras do crime e do ódio”.

Em entrevista à coluna, o economista e PhD em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, Igor Lucena, apontou o caráter escancaradamente autoritário do regime da Turquia, que controla as instituições.

“A Turquia não é um sistema democrático. Ekrem Imamoglu poderia ter o potencial de derrotar o atual presidente. Não é a primeira vez que Erdogan utiliza o sistema judicial, que é controlado por ele, para fazer com que inimigos políticos fiquem presos ou se tornem inelegíveis, para que não haja um desafio ao seu poder”, destacou Lucena.

Duas décadas de poder

Do mesmo clube de Donald Trump e outros da internacional populista de extrema direita, Erdogan iniciou sua influência política nacional em 1994, quando se tornou prefeito de Istambul em meio aos movimentos islâmicos emergentes da época. Foi condenado e preso por incitação do ódio religioso. Fundador do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) em 2003, Erdogan é líder da legenda conservadora até hoje.

Ele foi primeiro-ministro da Turquia por onze anos e se tornou o primeiro presidente eleito por voto direto, em agosto de 2014. Dois anos depois, acusou o líder islâmico Fethullah Gulen de uma tentativa de golpe, negada por Gulen. O presidente turco reagiu com violência: vários de seus apoiadores morreram em protestos e parte da mídia foi posta sob influência do governo, o que criou um clima de medo a todos que se opusessem a Erdogan.

Em 2017, Erdogan promoveu um referendo que instituiu o presidencialismo na Turquia e extinguiu o cargo de primeiro-ministro — função relativa ao chefe de governo em regimes parlamentaristas e semipresidencialistas. Essa articulação o permitiu concentrar mais poder como chefe de governo e ter permissão legal para disputar mais duas vezes a eleição para presidente.

Ele foi reeleito presidente em 2019, com 52,59% dos votos, e novamente em 2023, com 52,1% dos votos. Assim, seja como primeiro-ministro ou presidente, o conservador comanda a Turquia há mais de duas décadas.

Reaproximação com os EUA

Erdogan tenta fortalecer as relações com os Estados Unidos desde administrações anteriores da Casa Branca. Enquanto Barack Obama reconhecia Ancara como um parceiro importante, em meio à busca de Washington por restaurar sua imagem entre os muçulmanos após a Guerra do Iraque, Joe Biden não foi tão amigável.

Antes do resultado das eleições americanas em 2020, o governo da Turquia expressou clara preferência por Trump. Quando Biden venceu, Erdogan passou a adotar um tom reconciliatório, para garantir a tolerância de Washington às suas ações autoritárias no âmbito doméstico e adquirir maior liberdade na política externa.

Se Biden não entrou na onda de Erdogan em seu mandato, a troca de guarda na Casa Branca criou um ambiente favorável ao turco para se fortalecer interna e externamente. Trump, afinal, considera o presidente da Turquia um amigo, como o próprio republicano disse em janeiro.

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