Desejo, intuição e análise. Foram essas as palavras do cineasta Walter Salles, diretor de “Ainda estou aqui” para descrever o que esperava do trabalho de direção de elenco do filme indicado a três categorias no Oscar. Quem conta isso é Letícia Naveira, diretora de elenco responsável por escolher vários dos atores que deram vida à história da família Paiva no cinema.
Junto de sua equipe, Letícia percorreu escolas de balé, de dança e de futebol, além de teatros, para encontrar as pessoas perfeitas para os papéis disponíveis no filme. Ao todo, mais de 1.650 crianças e adultos foram entrevistados para o filme.
“Foi um trabalho árduo. A gente dividiu a equipe. Visitamos muitas escolas e muitos lugares diferentes. Na praia, que era um dos últimos lugares de pesquisa, foi onde encontramos o Guilherme Silveira, que interpreta o Marcelo Rubens Paiva na versão jovem”, disse Letícia à coluna, direto de Los Angeles, nos Estados Unidos, onde aguarda a grande cerimônia deste domingo, 2. “Ele estava brincando na praia do Leblon, que foi exatamente a mesma praia que o Marcelo brincava quando era criança.”
Na arte, nem tudo é coincidência. Outra missão dada à diretora por Salles, e que denota o nível de meticulosidade do filme, foi que ela encontrasse uma atriz mirim em fase de troca de dentes de leite por permanentes para o papel de Maria Beatriz Paiva, a Babiu. Características que foram encontradas na atriz mirim Cora Mora. “Alguns dias antes das filmagens, o dente da Cora caiu e o usamos em uma cena do filme”, revelou.
Letícia estudou diversos materiais de arquivos da época para ajudar Salles no processo de recriação da época da ditadura militar. Mesmo para os papéis dos militares na história, ela teve o trabalho de buscar atores conceituados, que evitassem uma ‘caricatura do mal’ no filme.
“Eu não queria atores que vilanizassem demais o papel”, lembrou, elogiando o ator Luiz Bertazzo, um dos antagonistas do filme, que faz o papel do militar que liderou as operações na casa de Rubens e Eunice Paiva.
A sensação de revirar o passado para mapear talentos, segundo ela, foi como um trabalho documental.
“Eu tinha fotos de todo mundo, principalmente de amigos da família Paiva. Era uma preocupação e uma vontade minha de que tivessem pessoas realmente parecidas com as verdadeiras”, disse. “Foi quase uma ficção documental.”