O discurso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para estimular atritos entre ricos e pobres “não cola”, afirmou a economista Elena Landau, diretora de privatizações do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) na gestão FHC (Fernando Henrique Cardoso), em entrevista ao PlatôBR. Segundo ela, sem atacar os gastos tributários concedidos ao setor privado, o governo não faz uma real distribuição de renda, mas mantém políticas assistencialistas.

Landau se diz pessimista com as perspectivas políticas e econômicas do Brasil para 2026 e 2027. Entende que Lula antecipou a campanha eleitoral para 2025 com diversas medidas populistas e que não é possível prever o que o petista fará para tentar se reeleger no próximo ano. 

“Se o Lula ganhar essa eleição teremos uma  continuidade dessas políticas e o perigo e vivermos no Brasil o mesmo que aconteceu no segundo mandato da Dilma, com recessão, inflação e juros altos”, diz a economista. “Eu não sou otimista e, desde sempre, nunca concordei com esse modelo de crescimento. É a crônica de uma crise anunciada”, acrescenta.

Na opinião da ex-diretora do BNDES, o governo contou com apoio do mercado no primeiro ano, mas “só tomou” medidas arrecadatórias. “Essa história de rico contra pobre não cola. Sem atacar gasto tributário, nada muda”, afirma. 

O próximo presidente, quer quem seja, terá de fazer reformas estruturais para aumentar a produtividade da economia brasileira e reduzir a trajetória de crescimento da dívida pública, de acordo com Landau. “Em 2027 vai ser necessário fazer reformas, assim como fizeram os ex-presidentes FHC e Temer. Será preciso enfrentar a indexação de gastos com saúde e educação, a política de reajuste real do salário mínimo e fazer uma nova reforma da Previdência”, diz a economista.

Ela também considera necessária uma abertura comercial, uma reforma “real” do Imposto de Renda e uma revisão dos gastos tributários, que “concentram renda” com Zona Franca de Manaus, microempreendedor individual e Simples. 

A seguir, a entrevista:

Como o Brasil chega ao fim de 2025 na condução da política fiscal?
Resultados ruins na política fiscal do governo do PT já são tradicionais. A gente já espera isso. A filosofia de política econômica petista é arrecadar para gastar. Eles têm modelo econômico antigo que acha que é possível resolver problemas estruturais apenas com transferências de renda. Não há projeto de aumento de produtividade, de uma mudança no Imposto de Renda para valer. O que surpreende é a gravidade dos gastos fora do arcabouço. Que a coisa não ia terminar bem, a gente sabe desde a PEC da Transição. Além da PEC, o governo criou o arcabouço, que já na partida a gente sabia que não ia dar certo, ainda que exista uma limitação de crescimento de gastos. Além disso, temos o salário mínimo crescendo em termos reais, que pressiona a Previdência Social. Não dá para dizer que estamos surpresos com 2025. E não dá para dizer que estamos surpresos com o crescimento da divida pública. O que eles argumentavam sempre, diante do modelo econômico de trabalho, que você muda a relação de divida PIB com crescimento econômico. Eles até arrecadaram muito, mas gastam ainda mais.

E de quem é a responsabilidade por esse quadro? 
A gente não sente por parte dos responsáveis pelo Planejamento, pelo orçamento e pelo Ministério da Fazenda  sinais de real preocupação com as contas públicas. São vários os problemas. E há uma pratica permanente de colocar gastos fora da meta fiscal. Temos para o próximo ano R$ 10 bilhões para os Correios, R$ 5 bilhões para a Defesa, para citar dois exemplos. Gastar R$ 170 bilhões fora da meta em três anos não é pouca coisa. A outra coisa preocupante é que eles acreditam que o mercado está olhando para déficit público e não para a trajetória de crescimento da divida pública. A mediocridade de mirar o piso e não o centro das metas fiscal e de inflação é ruim. Para afetar a trajetória de crescimento da dívida púbica é preciso ter superávit primário. Me impressiona o discurso que os dados estão ótimos. Vai ser pior em 2026. 

Por que 2026 vai ser pior?
Esse ano foi ano de clara campanha antecipada do Lula. Ele começou o ano mal nas pesquisas e entrou a todo vapor com políticas populistas e envelhecidas. Tratar o cidadão como dependente de Estado com essas políticas é péssimo. Depois o Lula teve ajuda do Eduardo Bolsonaro indo para os Estados Unidos, mas ele continuou em campanha antecipada. E começa a conversa de que rico não quer pagar imposto, o famoso nós contra eles. Imagina no ano que vem, que é ano de campanha. Tudo indica que teremos um ano preocupante em 2026 e acho que vai piorar. O diagnóstico não é só meu. O governo continua a pressionar a despesa obrigatória e não há perspectiva de corte de gastos. Isso mostra no Brasil as leis não adiantam nada. Sempre acham uma forma de mudar as regras. Quem ganhar em 2026, eu espero que não seja continuidade desse governo, vai ter o trabalho de consertar o trabalho fiscal do PT. 

E o como o país chega para as eleições em 2026?
O país chega com uma grande crise institucional. O STF está com lupa mirando as emendas parlamentares e isso é correto. Não sei se é papel do STF, mas tem que dar um basta nesse gasto enorme do orçamento do Brasil. É  trabalho do Congresso definir parte dos gasto, mas a qualidade dessas despesas é baixa. Para piorar, há uma briga do Legislativo com o Executivo, que se acirra em ano eleitoral. Não sabemos que pauta teremos, que “pauta-bomba” será proposta e o que o governo vai propor. Isso dificuldade. O que a gente espera de melhor para 2026 é que não aconteça nada de pior. Não dá para ser otimista. E tem a trajetória da dívida, que tem sua dinâmica própria. A expansão do PIB não vai compensar o crescimento da dívida. Ao mesmo tempo tem uma coisa grave que é o lado fiscal atrapalhando a política monetária. Reclamam do BC, que olha para a meta de inflação, e o governo continua gastando, mesmo com juros reais de 10%. E não há efetividade desses gastos, com melhoria de serviços públicos. E fora as estatais, que são um descalabro absoluto. 

Apesar desses problemas que você aponta, a oposição não tem candidato. 
A oposição tem candidatos até demais. A oposição tem que se unir. Tem Tarcísio, Ratinho, Zema, Renan, Caiado, Eduardo Leite. Mas a máquina do PT sendo incumbente, o candidato que sair agora vai ter que estar preparado. Eu acho e imagino que não será mais como tínhamos no passado um candidato único. Mas a oposição tem candidato. O Ratinho faz um bom governo no Paraná, Tarcísio faz bom governo em São Paulo. Pelo discurso do Lula, o Zema incomoda. A questão é eles se organizarem. Eu não conto o Flávio Bolsonaro como candidato. Me recuso. Aí vai dar no mesmo, um desastre conhecido que a gente já tem. E o Flávio não tem noção de economia. O governo Bolsonaro, no último ano e meio, foi tão populista quanto o Lula. Bolsonaro e Paulo Guedes entregaram o país de maneira delicada do ponto de vista fiscal, com todas as medidas tomadas e a PEC dos Precatórios.

Quais os desafios do próximo presidente?
Vai ter que dar um “stop” nessa desorganização fiscal e definir um modelo de crescimento voltado para reformas e produtividade. FHC fez isso com emendas, reformas e privatizações. Ele deixou um legado. Temer fez inúmeras reformas. Em 2027 vai ser necessário fazer reformas, assim como fizeram os ex-presidentes FHC e Temer. Será preciso enfrentar a indexação de gastos com saúde e educação, a política de reajuste real do salário mínimo e fazer uma nova reforma da Previdência. Também é necessária uma abertura comercial, uma reforma real do Imposto de Renda, não em pedaços. Também é necessário revisar os gastos tributários, que concentram renda com Zona Franca de Manaus, microempreendedor individual e Simples. E é necessária também uma revisão das despesas. Qualquer um sabe o que tem que fazer.

Há risco de recessão em 2027?
Também precisamos de privatizações. O que aconteceu com as estatais nesses três anos é um absurdo total. A ideia dos petistas de que estatal não pode dar lucro é um absurdo. A gente já viu esse filme. Mas se o Lula ganhar essa eleição teremos uma continuidade dessas políticas e o perigo de vivermos no Brasil o mesmo que aconteceu no segundo mandato da Dilma, com recessão, inflação e juros altos. Eu não sou otimista e, desde sempre, nunca concordei com esse modelo de crescimento. É a crônica de uma crise anunciada. E olha que o governo contou com apoio do mercado no primeiro ano. Mas o governo só tomou medidas arrecadatórias. Essa história de rico contra pobre não cola. Sem atacar gasto tributário, nada muda.