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‘Estão me chamando para ir ao cinema’, diz ex-presa política

Amelinha Teles, que foi torturada e teve parentes desaparecidos na ditadura, tem sido convidada para explicar ‘Ainda estou aqui’

Amelinha Teles
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Ex-presa política e uma das mais atuantes personalidades na luta pela punição dos torturadores e pela localização de desaparecidos, Amelinha Teles já assistiu a “Ainda estou aqui” duas vezes. Mas, se dependesse de conhecidos e desconhecidos, ela teria visto o filme muito mais vezes.

“As pessoas estão me chamando para ir com elas e explicar aquele momento da história. Tem gente que eu nem conheço, mas que me vê nas redes sociais e me chama”, contou ela à coluna, explicando que muitos dos pedidos vêm de gente de sua idade — ela completa 81 este ano — mas que há também gente mais jovem.

“Essa linguagem com que foi apresentado o caso Rubens Paiva cobre todas as faixas etárias”, disse ela, elogiando a obra de Walter Salles sobre a trajetória de Eunice Paiva na busca pelo marido, Rubens Paiva, assassinado pelo regime.

Mais que emoção, o filme, disse Amelinha, trouxe esperança de justiça. Ela lembrou que, durante sua prisão, em 1972, foi levada para o cárcere com seus dois filhos pequenos. Foi torturada na frente deles. Um dos filhos, ao ver seu marido, Cesar Teles, também preso, muito machucado, perguntou: “Por que você está azul e o pai está verde?”

O comandante da operação, que Amelinha conseguiu que a Justiça de São Paulo declarasse como torturador, gritava com ela e as crianças.

“Ele dizia ‘você é terrorista, você não gosta dos seus filhos’ e falava para as crianças ‘tá vendo, sua mãe não gosta de vocês, sua mãe é uma desnaturada’.”

Quem era ele? Carlos Alberto Brilhante Ustra, o coronel reverenciado por Bolsonaro.

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