O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado sinais públicos de disposição para conversar com Donald Trump sobre a ameaça de taxa em 50% as importações de produtos brasileiros pelos Estados Unidos. Até agora, porém, não houve um pedido formal de conversa, e o petista sofre críticas por não ter procurado o colega norte-americano para conversar diretamente – as tentativas de negociar estão a cargo do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, e do chanceler Mauro Vieira. Pessoalmente, Lula usa a estratégia política de deixar o “não” para Trump.
Apesar dos discursos dos últimos dias insistindo que o governo brasileiro está disposto a conversa e que são os norte-americanos que não se mostram dispostos ao diálogo, fontes diplomáticas asseguram que não há nenhum movimento no sentido de marcar uma conversa direta de Lula com Donald Trump. “Na política, esse jogo é sempre importante. Jogar o ‘não’ para o outro. É sempre estratégico”, disse ao PlatôBR um interlocutor assíduo do presidente brasileiro.
Lula vem cumprindo à risca os objetivos traçados no Planalto em combinação com o Itamaraty. Internamente, busca desmontar armadilhas contidas no discurso da oposição, que tenta responsabilizá-lo pelo ataque tarifário de Trump. Para isso, a receita tem sido repetir que Trump não fez nenhum gesto positivo em relação ao Brasil. Na visão do Planalto, Lula não pode ficar “se oferecendo”, mas tem que deixar claro que, se houver abertura, tem interesse de conversar – em circunstâncias específicas.
“Eu espero que o presidente dos Estados Unidos reflita sobre a importância do Brasil”, disse Lula nesta segunda-feira, 28, em Osasco. “Com muita tranquilidade, o Brasil quer negociar com Trump. A gente não quer briga, a gente quer negociar”, prosseguiu.
Chanceler na estrada
Ainda não se sabe se a estratégia se mostrará eficiente, mas Lula tenta não ser acusado de prejudicar o Brasil por ser intransigente do ponto de vista ideológico. Nesse sentido, o presidente brasileiro emite sinais no palanque e coloca a diplomacia a serviço da negociação – sem, contudo, pedir ele mesmo, pelas vias oficiais, uma conversa direta com Trump.
O ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) foi enviado aos Estados Unidos nesta semana justamente para demonstrar a disposição para o diálogo. A viagem, no entanto, adotou cuidados para não passar a imagem de subserviência, conceito que o governo atribui à direita bolsonarista.
Vieira tem como agenda oficial uma reunião na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, sobre a Palestina, mas indicou à Casa Branca que estaria no país, com disposição para ir a Washington caso haja disposição para conversar.
Só que não há ainda, de acordo com o governo, nenhuma sinalização de que seu correspondente, o secretário de Estado, Marco Rubio, aceitará recebê-lo. “A bola está com a Casa Branca”, disse um membro da diplomacia brasileira, sob reserva. Para fontes diplomáticas, todos os esforços estão sendo feitos e a ida do chanceler ao país é parte dessa estratégia.
A poucos dias da data anunciada por Trump para o tarifaço vigorar (se não houver mudanças, será na próxima sexta, 1º de agosto), o governo brasileiro ainda prepara medidas para tentar amortecer os efeitos da sobretaxa americana na economia – ao que tudo indica, o pacote incluirá facilitação de empréstimos a exportadores, por exemplo. O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que vai apresentar ainda nesta semana um “plano de contingência” para os setores prejudicados.