Ex-prefeito de Analândia, cidade de pouco mais de cinco mil habitantes no interior paulista, Beto Perin confirmou à coluna que é a voz que aparece em áudios de uma bolsonarista suspeita de pedir propina para liberar emendas parlamentares em São Paulo. Amanda Servidoni se apresentava como assessora de Valéria Bolsonaro, secretária de Políticas para a Mulher do governo Tarcísio de Freitas. Deputada licenciada, Valéria nega envolvimento com a servidora.

Em áudios revelados pelo jornalista Ramiro Brites, Amanda aparece pedindo um pagamento de R$ 100 mil referente a uma emenda de R$ 300 mil. “Nós estamos dando trezentos. Desses trezentos, eu quero pelo menos uns cem, entendeu? Não quero 10%, filho”, diz Amanda em uma das gravações. Na conversa, ela se irrita: “Vocês não sabem fazer negócio?”.

Em outro áudio, que Perin confirmou ser seu, o ex-prefeito afirmou:

“Amanda, boa noite. Aquela emenda deve estar alinhada, deve estar encaminhada para a deputada lá. Eu não sei, esses dias tava numa correria, a prefeita tava atrás das festas, romaria, muito compromisso, sabe? Mas se tiver alguma novidade, tá faltando alguma coisa… Foi feito um ofício, foi encaminhado, dos R$ 300 mil. Você dá um alô, tá? Qualquer novidade amanhã, tá bom?”.

A prefeita citada por ele é Silvana Perin, sua irmã, que governa Analândia. Perin foi prefeito por três mandatos, mas está inelegível até 2030. Hoje, segundo disse à coluna, ajuda a prefeitura sem ter um cargo. Foi ele quem iniciou a irmã na política. Um dos processos que pesam contra ele é a da contratação de um show na cidade que nunca ocorreu.

Beto Perin afirmou que tratou com Amanda como se ela fosse uma assessora de Valéria Bolsonaro, mas negou que ela tenha pedido propina. Perin disse que procuraria a polícia para fazer um boletim de ocorrência de “preservação de direitos”, pois o vazamento do áudio estaria lhe trazendo prejuízos políticos.

O ex-prefeito declarou também que sua irmã chegou a se reunir com Valéria Bolsonaro em Rio Claro, cidade próxima, ocasião em que pediu recursos para a cidade. Mas, segundo ele, não houve participação de Amanda Servidoni.

“Foi pedida para a deputada [Valéria Bolsonaro] uma vez uma verba para… Acho que foi para assistência, e veio um recurso uma vez, foi comprado um veículo. Foi isso daí, mas faz um tempo já”, disse ele.

Perin não soube citar a data: “Faz tempo. E a deputada se comprometeu diretamente com a prefeita, e aí teve esse repasse. Não sei se foi R$ 200 mil, uma coisa assim, nada a ver com R$ 300 mil”.

A relação com Amanda teria se estabelecido depois desse encontro com a secretária, que ele chama de deputada.

Amanda Servidoni confirmou ao repórter Ramiro Brites que os áudios são seus, mas negou ter pedido propina. A secretária Valéria Bolsonaro negou que a servidora, que coordena um grupo religioso de mulheres apadrinhado por ela, seja sua assessora ou fale em seu nome.

Agora, tanto a secretária como a servidora podem ser chamadas a prestar depoimento aos deputados da Assembleia Legislativa. A deputada Beth Sahão, do PT, apresentou requerimentos em duas comissões para a convocação de Valéria e Amanda.