PODER E POLÍTICA. SUA PLATAFORMA. DIRETO DO PLANALTO

Força de Lula é trunfo de Edinho Silva para vencer racha interno e assumir o PT

Para petistas, nome do ex-ministro de Dilma Rousseff ainda é o preferido do presidente, que acenou com neutralidade. Corrente majoritária do PT, da qual o próprio Lula faz parte, está rachada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Edinho Silva, ex-ministro de Dilma Rousseff que disputa a sucessão de Gleisi Hoffmann no comando do PT
Foto: Reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um homem que não gosta de perder. No PT, seus companheiros costumam atribuir a ele um frase que traduz bem essa característica: "Eu ganhei, nós empatamos, você perdeu". É bem nessa linha que a posição de Lula é vista no contexto da disputa pela presidência do partido. As eleições internas estão marcadas para o início de julho.

Na semana passada, Lula se viu pressionado ao ouvir uma série de queixas em relação a Edinho Silva, ex-ministro da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) sob Dilma Rousseff e ex-prefeito de Araraquara (SP) que há mais de um ano Edinho vem se colocando como o candidato ungido por ele, a estrela máxima do PT. Em um jantar, o presidente negou diante de integrantes da corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), a corrente majoritária do partido, da qual faz parte, que a candidatura de Edinho seja uma imposição sua. Disse ainda que não iria se meter na escolha e que essa decisão teria que ser do PT.

Nesta segunda-feira, 10, porém, petistas mais próximos de Lula disseram que "Edinho está confirmado" por Lula, apesar da oposição interna.  O próprio ex-ministro, em conversas com correligionários, reclamou de ter sido queimado no jantar, na casa de Gleisi Hoffmann, uma das principais opositoras de sua candidatura ao comando do partido, embora ambos sejam da CNB. "O presidente Lula vai para uma reunião para que a gente possa construir unidade. E ela é vazada para a imprensa como instrumento de luta interna. Nós não podemos aceitar. Eu estou muito indignado com o que aconteceu, da forma como aconteceu", disse, em vídeo publicado em suas redes sociais.

A resistência ao nome de Edinho parte além de Gleisi, que deixou dias atrás a presidência do partido para assumir a SRI (Secretaria de Relações Institucionais) do Planalto, de outras figuras com posições de destaque na estrutura do partido. É o caso de Gleide Andrade, tesoureira do PT, que quer continuar no cargo a contragosto de Edinho; do presidente tampão da legenda, Humberto Costa; do prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá; e de Jilmar Tatto, que comanda a comunicação do PT e é marido de Gleide.

É verdade que Lula quer Edinho Silva no cargo, mas ao ouvir a pressão do grupo de Gleisi, o presidente negou que vá interferir no processo. Só que tem um detalhe: ele sempre interferiu e, em alguns momentos, impôs suas preferências. A própria Gleisi foi conduzida, reconduzida, e teve seu mandato prorrogado por intervenção explícita de Lula. E todas essas ingerências ocorreram sob o discurso de que o PT precisa caminhar sozinho - o mesmo de agora.

No jantar da semana passada, o presidente chegou a questionar o grupo de oposição a Edinho sobre quem seria capaz de alcançar consenso dentro da CNB, a corrente majoritária rachada. Foram lembrados, então, os nomes do próprio Humberto Costa, do deputado cearense José Guimarães, de Rui Falcão, que presidiu o PT durante o governo Dilma, e de Paulo Okamoto, amigo do peito de Lula e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido. Okamoto até que poderia ser uma opção do agrado do presidente, mas tem dito a interlocutores que não gostaria de assumir a missão.

Por que "Edinho, não"?
Os descontentes reclamam que Edinho passou por cima de instâncias partidárias para, simbolicamente, se sentar na cadeira de presidente do PT, com Gleisi ainda no cargo. O aval de Lula era o trunfo apresentado pelo ex-ministro para isso. "Ele queimou a largada. Agiu como se já fosse o presidente ungido e que Lula o queria. O que ele fez foi queimar todas as instâncias partidárias", disse um petista que participou do jantar.

Diante do presidente da República, a turma do "Edinho, não" enumerou momentos em que a apontada "usurpação de poder interno" teria ocorrido. Lembraram, por exemplo, de dois encontros de Edinho com o prefeito de Recife, João Campos, que será presidente nacional do PSB.

"Já falaram de presidente para presidente?", questionou um dos presentes na reunião. Edinho visitou Campos em meio às reuniões regionais, chamadas pelo PT de plenárias, que tem feito para pedir apoio nas eleições internas. O prazo para registro de candidatura teve início nesta segunda. Nesta quarta-feira, 12, o ex-ministro fará uma plenária semelhante à de Recife em Brasília.

Disputa pela tesouraria
A resistência a Edinho tem outros motivos, mais pragmáticos. Ele se opõe à permanência na tesouraria do partido da mineira Gleide Andrade, que cuidou das finanças durante todo o período em que Gleisi Hoffmann foi presidente. Há duas semanas, Gleisi conseguiu aprovar na reunião do Diretório Nacional uma emenda ao estatuto do PT para permitir a recondução da tesoureira. A mudança foi batizada pelo petistas, ironicamente, de "Emenda Gleide".

Edinho também não fez questão de agradar o grupo que está na cúpula do partido em sua campanha. Há pouco mais de um mês, ele organizou um jantar na casa do deputado Reginaldo Lopes (MG) e não convidou, por exemplo, Jilmar Tatto, que é marido de Gleisi e membro da Executiva do PT. Na posse dos ministros Gleisi e Alexandre, nesta segunda-feira no Planalto, Tatto repetiu que não há consenso na CNB em torno da candidatura de Edinho Silva. E apontou Humberto Costa e Paulo Okamoto como possíveis candidatos.

Ainda no evento, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que a indicação de Edinho Silva “está sendo resolvida”, reforçando a tese de que o nome dele deverá prevalecer. O próprio Edinho, indagado pelo PlatôBR, afirmou estar tranquilo e que uma solução “está próxima”.

Até lá, o racha na corrente mais poderosa do partido que comanda o governo persiste.

search-icon-modal