Ainda vai levar um tempo para que tudo se esclareça de vez sobre o tamanho exato dos estragos que essa bagunça jurídico-financeira no INSS causou a milhões de pessoas em todo o País. Como se fossem sanguessugas, lentamente e sem piedade, algumas empresas Brasil afora durante meses surrupiaram dos contracheques de aposentados e pensionistas moedas de valores diferentes. Sem autorização e sem avisar, mãos do além atuaram na calada da noite e engordaram seus caixas se apoderando de bens de pessoas inocentes, tirando delas parte importante de seu único meio de sustento.

Página infeliz da nossa história, coisa pra esquecer. Como sempre acontece, quase toda tragédia amplia seu campo de ação, e não raro espalha sequelas pela vizinhança, afeta a quem não teve nada a ver com ela e gera prejuízos de toda ordem. Segundo a Polícia Federal, muitas das associações apontadas como responsáveis por cobranças indevidas de parcelas mensais de aposentados o fizeram legalmente, dentro da lei. Verdade também que a maioria denunciada tem culpa no cartório, e deve pagar por isso. Aqui, um detalhe que chama a atenção.

Empresários de Brasília, e de todo o Brasil, se queixam de ter seus nomes citados em denúncias infundadas, ligadas a essa pauta, mesmo que contra eles nada tenha sido constatado como conduta ilegal. Alegam ser injustamente atacados, e esperam que a citação de seus nomes mereça o devido reparo. No pacote de estragos causados a terceiros pelo INSS, mais um ponto a se lamentar.

A investigação, iniciada pela PF certamente vai ser longa, exigirá comprovação de documentos, confronto entre autoridades e uma série de perguntas que terão que ser respondidas.

Quem conhece a dinâmica do funcionalismo público do Brasil sabe muito bem o que isso quer dizer. E, se existe uma entidade que nunca foi agraciada com medalha de ouro em termos de velocidade funcional e organização, essa entidade chama-se INSS. Fácil comprovar isso, basta recorrer ao histórico de críticas e observações negativas que o órgão sempre acumulou. A crise atual, infelizmente, apenas traz à tona uma série de questões mal resolvidas no passado, e que em nenhum governo nos últimos 15 anos conseguiu equacionar.

A começar pelas filas intermináveis, demora nos atendimentos protocolares, burocracia funcional inadmissível nos tempos modernos de hoje e sinais evidentes de má gestão administrativa. Sobre a hipótese, já levantada de indícios de corrupção interna, que motivou toda essa sangria moral e ética, ainda há poucas informações oficiais.

Mas, a julgar pelo volume de comprovadas ações dolorosas, o que se anuncia é que talvez tenhamos em breve turbulências no ar. Tudo isso é muito ruim para o governo, para o País e, principalmente, para o universo de aposentados que, por mais que sejam recompensados, sempre estarão inseguros, sempre sob uma ameaça sombria sabe-se lá de onde venha.

Do ponto de vista estritamente político, as primeiras consequências já estão em curso, negue quem quiser. Questionado pelos institutos de pesquisas sobre o que acham desse episódio, o cidadão de pronto reage com evidente indignação. Não há como deixar de criticar, e condenar, entidades tidas como sérias do governo por esse caos instalado país afora. No linguajar popular, a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. Independentemente da idade, quando ela é afetada, seja de que forma for, não há medicina que aponte um medicamento eficaz com muita rapidez. Se o governo tem juízo, que preste atenção nisso.

José Natal é jornalista com passagem por grandes veículos de comunicação como Correio Braziliense, TV Brasília e TV Globo, onde foi diretor de redação, em Brasília, por quase 30 anos. Especializado em política, atuou como assessor de imprensa de parlamentares e ministros de Estado e, ainda, em campanhas eleitorais