Horas antes de embarcarem de volta ao Brasil, nesta quarta-feira, 30, senadores que participaram de missão oficial aos Estados Unidos para tratar da tarifa imposta pelo governo de Donald Trump defenderam, em entrevista coletiva, a viagem como um “gesto político necessário”. A medida, que atinge todos os produtos brasileiros exportados para o país, entra em vigor nesta sexta-feira, 1º, e tende a afetar desde o agronegócio até a indústria de transformação.

Na ocasião, os parlamentares admitiram que não houve resultado prático direto após os três dias de reuniões em solo americano. “Ninguém tinha pretensão de sair com a situação resolvida”, afirmou o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), líder da comitiva. A principal ação formal foi a entrega de uma carta a congressistas e integrantes do Executivo pedindo o adiamento da tarifa, mas não houve resposta oficial até agora.

Os senadores insistiram que a iniciativa do Congresso não se sobrepõe ao Itamaraty, e sim busca reforçar a pressão política e institucional. O gesto, porém, teve repercussão limitada nos EUA e enfrentou críticas no Brasil, principalmente quanto à ausência de efeitos concretos.

A comitiva tenta demonstrar que o Legislativo pode ter papel complementar, inclusive com a proposta de criação de um grupo interparlamentar Brasil – EUA, voltado à cooperação comercial. A ideia é institucionalizar um canal de diálogo direto entre os Congressos dos dois países. Ou seja, uma tentativa de construir pontes no médio prazo, mesmo diante do cenário desfavorável atual.

O gesto político, porém, não conseguiu evitar que a tarifa entre em vigor. Do lado brasileiro, os senadores buscaram sinalizar que o Congresso não está de braços cruzados. E, mesmo sem efeito imediato, voltam ao país apostando que, em tempos de pressão eleitoral e judicial, mostrar que agiu já serve como escudo político.

Mais sanções no horizonte
Durante a coletiva, o senador Nelsinho Trad alertou que a tarifa de 50% pode ser apenas o começo. Segundo ele, há um projeto em tramitação no Congresso americano que prevê sanções secundárias a países que mantêm relações com a Rússia — e o Brasil estaria no radar.

O alerta veio após reuniões com parlamentares dos EUA, que demonstraram preocupação com a postura brasileira diante da guerra na Ucrânia e da proximidade com o governo Putin. “O que está ruim pode ficar muito pior”, disse Trad.