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Gilmar nega que Moraes seja o ministro mais poderoso do STF

Gilmar Mendes nega que Alexandre de Moraes seja o ministro mais poderoso do STF

O ministro do STF, Gilmar Mendes.
Foto: Daniel Medeiros/PlatôBR

Gilmar Mendes completa 70 anos de idade e 33 de STF em 2025. Há tempos, é um dos mais políticos dos 11 ministros, cruzando de um lado para outro da Praça dos Três Poderes com uma desenvoltura de que senadores, deputados nem o presidente da República desfrutam. Sabe usar o poder que a toga confere para defender o tribunal privado e publicamente e conviver de perto com quase todos os governos — a exceção foi de Dilma Rousseff. Defender o Supremo foi o que fez na segunda parte desta entrevista, na segunda-feira, 6, por ocasião dos dois anos do 8 de Janeiro.

Disse que a Corte mais acertou do que errou, lembrou decisões que permitiram salvar vidas na pandemia e avançar em questões humanitárias e respaldou a atuação de Alexandre de Moraes, que, para ele, não é o mais poderoso dos ministros.

“Não dá para medir pela relatoria o poder de ninguém no tribunal. Todos nós, de alguma forma, temos uma ou outra relatoria importante. Alexandre foi a pessoa certa, no lugar certo, no momento certo, inclusive no TSE”.

Moraes acumulou poderes inéditos ao conduzir investigações sobre ataques à Corte e à democracia, por meio de desinformação e da atuação de milícias digitais. Para Gilmar, o empoderamento do colega foi proporcional às descobertas que se avolumaram a partir do primeiro desses inquéritos, o das Fake News, em 2019.

Aberta por iniciativa do então presidente do tribunal, Dias Toffoli, sem participação do então PGR Augusto Aras, e direcionada também por decisão de Toffoli para Moraes, a investigação originou o inquérito das milícias digitais, que se tornaria o vetor para apurar um grande leque de suspeitas contra Bolsonaro e seus aliados. A defesa do ex-presidente diz que juntar tudo sobre Bolsonaro no STF e com Moraes é ilegal. Gilmar discorda.

“O gabinete do ódio, todas aquelas práticas que se revelavam, tudo isso fez de Alexandre, obviamente, uma figura central”.

Sobre críticas mais amplas ao STF, disse avaliar que o Supremo acaba sendo alvo de todo tipo de insatisfação com o Poder Judiciário, a exemplo de penduricalhos salariais e privilégios, por ser sua instância mais poderosa e os 11 ministros seus rostos mais famosos. Lembrou que na pandemia foi uma decisão do tribunal que garantiu independência de atuação a estados e municípios em meio ao negacionismo do governo federal, e louvou a transparência de decisões e das sessões da Corte. “Talvez os nossos apoiadores sejam silenciosos e os nossos críticos e adversários sejam bastante vocais. Há também um desafio de comunicação”.

Gilmar falou ainda sobre ser alvo de críticas por organizar anualmente, em Portugal, o Fórum de Lisboa, que reúne políticos, ministros, advogados e empresários para discutir temas do país. O evento tem o IDP, faculdade de que Gilmar é sócio, entre os organizadores, e, tal qual outros do gênero, é criticado por supostamente servir de espaço para lobbies e acessos indevidos de empresários a figuras proeminentes da República.

O ministro disse ser ingênuo achar que pessoas públicas precisam sair do país para encontrarem-se em eventos privados e defende a realização do fórum na capital portuguesa, a mais de 7 mil quilômetros de Brasília, por permitir que os participantes se concentrem no conteúdo dos painéis e, assim, ter debates mais proveitosos. Tampouco disse se constranger do apelido pelo qual o evento passou a ser chamado, “Gilmarpalooza”. “Me aconselharam a registrar a marca”, debochou. A tempo: Gilmar convidou e Lula topou abrir o Fórum este ano.

Colaboraram João Pedroso de Campos, Tatiana Farah e Giovanna dos Santos

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