O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, do União Brasil, e o seu filho, o empresário Luís Antônio Mendes, foram derrotados na Justiça estadual em uma tentativa de censurar reportagens que revelaram, em julho de 2023, que Luís Antônio era investigado em uma operação da Polícia Federal contra compra ilegal de mercúrio para garimpo, a Hermes (Hg). O nome da operação faz alusão a Hermes, deus grego equivalente ao deus Mercúrio da mitologia romana, enquanto o Hg se refere ao elemento mercúrio na tabela periódica.
A juíza Olinda de Quadros Altomare, da 11ª Vara Cível de Cuiabá, rejeitou o pedido de Mendes e Luís Antônio para que as reportagens do jornal A Gazeta fossem retiradas do site do veículo. Também foi negada a pretensão do governador e seu filho de serem indenizados em R$ 660 mil pelo jornal e o repórter responsável pela apuração, Pablo Rodrigo.
Mendes e Luís Antônio alegavam que o conteúdo os difamou, configurou abuso da liberdade de imprensa e que a publicação foi uma retaliação após uma empresa dos donos do jornal ser derrotada em uma concorrência pública do governo estadual.
Para a magistrada, no entanto, o jornal e o repórter “apenas e tão somente exerceram regularmente um direito que lhe é dado pela carta constitucional”, conclusão baseada na “simples leitura das matérias jornalísticas em questão”.
“Na verdade, as matérias, embora incisivas, não contêm expressões pejorativas ou julgamentos de valor que ultrapassem a mera descrição objetiva dos fatos apurados. Além disso, também não se comprovou a inserção dolosa de informações falsas, pelo contrário, pois a confirmação posterior de que o autor Luis Antônio era, de fato, objeto de investigação, corrobora a veracidade substancial do conteúdo”, escreveu a juíza.
O repórter Pablo Rodrigo e outros profissionais da imprensa de Mato Grosso alvos de ações judiciais em uma ofensiva de Mauro Mendes foram acolhidos pelo Programa de Proteção Legal da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O programa garante assistência jurídica a jornalistas que, por meio de processos na Justiça, estejam sendo silenciados ou constrangidos ao exercer a profissão.