A situação do ministro Carlos Lupi (Previdência Social), do PDT, era considerada insustentável no governo e, oficialmente, ele pediu demissão no final da tarde desta sexta-feira, 2, por causa do esquema de fraude bilionário no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O novo ministro da Previdência, já anunciado, é o ex-deputado Wolney Queiroz, atual secretário-executivo da Previdência.
Lupi divulgou nota afirmando que entregou o cargo, mas sua demissão estava decidida no Planalto. Membros do PDT se dizem contrariados com o governo pela queda do titular da Previdência, esperavam uma defesa de sua permanência por parte de Lula. O ex-ministro também teria ficado contrariado com o desfecho, mas não resistiu às pressões.
O governo adiou a decisão sobre a possível demissão do ministro por causa de sua influência no PDT, como presidente licenciado e principal líder do partido, que mantém uma aliança histórica com o PT. O escândalo no INSS, no entanto, causou sérios prejuízos à imagem do governo Lula. Ainda não há um levantamento preciso do total desviado da folha de segurados por meio de descontos ilegais entre 2019 e 2024, mas estima-se que o total possa ultrapassar R$ 6 bilhões.
Com a demissão, Lula espera estancar o escândalo. As investigações prosseguem e, a cada dia, aprofundam o desgaste para o Planalto. O governo prometeu ressarcir as pessoas lesadas, mas ainda não definiu como isso ocorrerá.
Mesmo que não haja comprovação de qualquer denúncia envolvendo diretamente o ministro Lupi – ou de que ele seria um eventual líder do esquema -, havia um consenso no governo de que o fato de ele não ter tomado providências imediatamente para a apurar o caso, ainda em julho de 2023, quando os primeiros relatos sobre os descontos ilegais chegaram a ele, tornou a sua situação muito difícil.
Lupi foi omisso, na avaliação de governistas. Desde o início da crise, o ideal para o Planalto era que ele pedisse demissão, e que o PDT concordasse com a indicação de um outro nome do partido para substituí-lo, como ocorreu. Se mais adiante, nada for provado contra ele, afirmaram governistas, ele poderá até tentar retornar ao cargo.
O ministro foi o responsável pela indicação, em 2023, do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, demitido na semana passada por ordem do presidente da República. Lula nomeou um novo presidente para o INSS, Gilberto Walter Junior, sem ao menos consultar Lupi
Nesta sexta-feira, no início da tarde, o líder do PDT na Câmara, Mário Henringer (MG), informou que Lupi iria ao Palácio do Planalto para se encontrar com o presidente Lula e pedir demissão. No início da semana, o deputado disse que, se Lupi fosse afastado do cargo, o partido deixaria a base do governo Lula. “O estrago para o partido já está feito. Só uma ilação ou uma suspeita já gera um desconforto muito grande”, afirmou o deputado. O partido tem uma bancada de 17 deputados na Câmara e três representantes no Senado.
O PDT é ligado à Força Sindical, uma das maiores centrais de trabalhadores do país. As fraudes descobertas pelas investigações seriam praticadas, justamente, por entidades sindicais de aposentados e, pela dimensão do escândalo, podem chegar à central ligada ao partido.
Comparação com Juscelino
Comparando com o caso do ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho (União Brasil-MA), os colaboradores do governo lembram que Lula havia afirmado que caso a Procuradoria-Geral da República o denunciasse, ele seria afastado do governo, o que acabou ocorrendo. No caso da Previdência, Lupi não é investigado pela operação desencadeada pela PF e pela CGU.
A substituição de Juscelino foi considerada simples perto do caso do pedetista - apesar de o novo indicado, num primeiro momento, ter recuado depois de aceitar o cargo. O União Brasil, partido do ex-ministro, concordou em indicar outro nome para substituir Juscelino, enquanto o PDT se recusava a tomar essa medida.
Lupi participou na segunda-feira, 28, de uma reunião do Conselho Nacional de Previdência Social e deu suas explicações sobre a crise no INSS. Ele negou ser o responsável pelas fraudes. Nesta terça-feira, 29, ele participou de uma audiência pública na Comissão de Previdência da Câmara foi cobrado a esclarecer o caso.
Não foi a primeira vez que Lupi teve de se explicar sobre desvio de recursos em um governo petista. Em 2011, no primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), ele comandava o Ministério do Trabalho, alvo à época de denúncias de desvios de recursos em convênios com ONGs na área de qualificação profissional. Naquele momento, ele chegou a dizer que “morro, mas não jogo a tolha”, pois “alguns nascem para se acovardar e outros para lutar, como é o meu caso". Mas acabou demitido, como agora.