O que parecia uma cassação certa terminou numa reviravolta de última hora. A Câmara aprovou, na noite desta quarta, 10, a suspensão de seis meses do mandato do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Essa é a segunda punição mais dura do regimento, mas ainda assim tratada pelos aliados como uma vitória, pois a perda do mandato era vista como certa até o início da tarde.

A guinada começou quando o PSOL apresentou o destaque que trocava a pena. Adversário de Glauber no estado, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) defendeu a mudança e o gesto mexeu no clima da votação. A oposição percebeu que os 257 votos necessários para cassar começavam a escapar. A atuação do governo, somada à divisão no Centrão, alterou a correlação de forças no plenário. O risco, para os defensores da cassação, era deixar Glauber sem nenhuma punição.

A mudança no ambiente ficou evidente quando parte das bancadas do Centrão foi liberada para votar como quisesse. Sem amarras das lideranças, deputados do União Brasil, PSD e PP abriram espaço para a tese da “racionalidade”: se não havia votos suficientes para cassar, era melhor garantir alguma pena. A liberação do voto remoto pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), completou a janela de oportunidade que o PSOL precisava.

A líder da sigla, Talíria Petrone (RJ), costurou o movimento conversando com parlamentares pouco ideológicos do Centrão. Repetiu a eles que a cassação, dada como favas contadas, era desproporcional. Do lado do governo, ministros e articuladores atuaram no varejo, voto a voto. O resultado apertado do destaque — 226 a 220 — mostrou que a operação passou raspando.

Com a cassação descartada, o plenário aprovou a suspensão por 318 votos a 141. O placar superou com folga a maioria absoluta exigida. Glauber mantêm o mandato e evita o efeito colateral mais decisivo: a perda dos direitos políticos por oito anos.

Logo após o resultado, o deputado punido tratou o desfecho como uma vitória “arrancada na marra” da mobilização externa. “O cenário era dado como uma cassação já operada. Mas eu quero agradecer a todas as pessoas que se mobilizaram, porque isso teve um papel fundamental em movimentar o que estava acontecendo no plenário. A partir do momento em que a mobilização veio de fora, os deputados sabiam que estavam sendo observados”, afirmou Glauber.

Ele também destacou que o PSOL não cedeu em princípios durante a pressão. “Queriam impor um processo de humilhação pública, para nos ver rendidos. Não recuamos. Para o cenário que se tinha, foi uma vitória, uma vitória da mobilização quente dessas últimas 24 horas e das liberdades democráticas”, acrescentou.

Glauber respondia a um processo por ter chutado um integrante do MBL no estacionamento do Congresso. A ação estava parada havia meses e era tratada como uma cassação encaminhada.