Juscelino Filho, denunciado pelo PGR por suspeita de corrupção com emendas, comunicou à ministra Gleisi Hoffmann que deixaria o governo quando ela participava de um almoço na casa de Antonio Rueda, presidente do União Brasil, partido de Juscelino, com o senador Davi Alcolumbre e o líder do partido na Câmara, Pedro Lucas Fernandes, entre outros da legenda.

Com a chegada do ministro Celso Sabino, do Turismo, também do partido, o comando do União Brasil afirmou à petista que apresentaria um novo nome para suceder Juscelino. O ainda ministro das Comunicações disse ser inocente e afirmou que se desligaria do governo para preparar sua defesa.

O gesto de Juscelino poupa Lula, que temia estremecer sua aliança com o União Brasil, mas não evitou que o presidente passe a impressão de que o combate à corrupção não é uma preocupação central de seu governo. Nesses dois anos de suspeitas contra Juscelino, valeu mais manter a boa relação com o partido aliado do que demonstrar austeridade — uma decisão que decorre também da dificuldade de governabilidade.

A Transparência Internacional mostrou em fevereiro que o Brasil ocupa sua pior posição desde que o ranking de percepção da corrupção dos países foi criado, em 2012. A pesquisa mostrou que cresceu a percepção sobre a corrupção no país. Os dados fizeram o Brasil perder três pontos e o colocaram na 107ª posição entre os 180 países pesquisados. 

O contexto não é novo. Na eleição de 2022, já havia o diagnóstico de que a impressão de leniência com a corrupção por parte de Lula era um fator de rejeição. Mas isso nunca levou o governo a se preocupar para valer com o tema. Não há nenhum esforço de comunicação do governo nessa direção, numa postura bem diferente da adotada por Dilma Rousseff em seu primeiro governo, ou mesmo nas duas primeiras gestões de Lula. É como se o petista tivesse jogado a toalha na tentativa de conquistar esse eleitor que considera a corrupção o grande problema nacional.

Lula manteve por dois anos e três meses o ministro das Comunicações. Quando Juscelino Filho foi indiciado no ano passado pela Polícia Federal, Lula disse que esperaria o caso ser denunciado pela PGR. Ignorou diversos sinais de que o desfecho seria o da denúncia e esperou que o ministro se mexesse para evitar uma crise com o União Brasil. Foi um erro desnecessário no governo de um partido tão machucado por denúncias de corrupção.