O governo brasileiro respirou aliviado com a trégua de 90 dias na guerra comercial imposta ao mundo pelo presidente Donald Trump. O empresariado, nem tanto. Nos bastidores da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, comemora-se uma vitória da diplomacia e defende-se como acertada a estratégia de evitar confrontos e de ter sangue frio para aguardar. Para o setor produtivo, falta ação do governo.
O descompasso entre os movimentos e a vida real reflete a angústia das empresas que viram o planejamento estratégico ruir da noite para o dia com o caos e a incerteza instalada no mundo após a implementação da política protecionista americana. Para um alto integrante da equipe de Lula, agora, sem o peso da volatilidade excessiva das últimas semanas, será possível sentar para conversar e tentar reverter a taxação excessiva, negociar cotas ou outras opções para se chegar a um bom termo nas relações com os Estados Unidos.
Em outra frente, o governo quer abrir novos mercados e acelerar conversas com parceiros que passam a ser ainda mais estratégicos, sobretudo, na Europa e na Ásia. Nesta quinta-feira, 10, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que, após a recente visita à França, foi convidado para conversar, também, com a Alemanha. “O Brasil, pela sua dimensão, não pode se ver como um anexo de um dos três blocos (EUA, União Europeia e Ásia). Vamos investir, na política e na economia, no multilateralismo” afirmou, ressaltando que esse tem sido “o mantra do presidente Lula”.
Antes de partir para a exploração de novas oportunidades, o empresariado quer resolver problemas com os mercados já estabelecidos e reclama do posicionamento “excessivamente político” do governo. Nas últimas semanas, as conversas entre a equipe econômica e o setor privado aumentaram. “Mas não há nenhuma sinalização do governo. Tudo está em compasso de espera”, critica um alto executivo do setor privado.
Segundo outro empresário que recentemente participou de conversas em Brasília, a concorrência com produtos vindos da China já era um problema para alguns setores, entre eles, o do aço e o do alumínio, os primeiros a serem taxados por Donald Trump. O problema é que o recuo não inclui o setor. A tarifa de 25% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos segue valendo, enquanto para todos os demais produtos, a taxa ficou em 10%.
Antes mesmo da guerra comercial declarada por Trump, as siderurgias brasileiras já negociavam com o governo alternativas para tentar minimizar os impactos com a concorrência chinesa no mercado interno. Agora, com a confusão instalada pela briga entre americanos e chineses, eles temem que o mercado no Brasil seja invadido pelo aço do gigante asiático que não irá mais para os Estados Unidos.
Os empresários reclamam que estão perdendo espaço no mercado americano e ainda ficaram sufocados pelos preços dos produtos chineses que entram no Brasil com preços bem menores. “Agora, nesses 90 dias, é hora de cada país olhar para dentro e se proteger. Se não, vamos começar a comprometer empregos no país”, diz.