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Guerra de versões e acusações sob os escombros do Teatro Ventoforte

Icônico teatro de São Paulo tenta renascer numa batalha entre artistas, prefeitura e seu responsável legal

Divulgação
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Fundado em 1974, por Ilo Kugli, e depois transferido para São Paulo, instalando-se em terreno cedido pela Caixa em 1984, o Teatro Ventoforte vive uma guerra nos bastidores entre um coletivo de artistas, o responsável legal pelo espaço, Claudeir Gonçalves, e a prefeitura. O teatro, que funcionava dentro do Parque do Povo, no Itaim Bibi, região nobre de São Paulo, foi demolido pela prefeitura em 13 de fevereiro, o que abriu espaço para uma troca de acusações entre as partes. O espaço foi tombado em 1995 — ou seja, não poderia ser demolido.

O coletivo de artistas que usava o local para peças de teatro acusa Gonçalves de ter se apropriado indevidamente do espaço após a morte de Kugli, em 2019. Desde então, ele abriu uma barraca de coco no local e, segundo o coletivo, não fez os investimentos previstos para a manutenção do teatro.

“O espaço ficou degradado por causa da descaracterização feita por Claudeir Gonçalves. Ao invés de ele pegar a verba destinada para reforma que vinha das leis de fomento que a gente ganhou, ele desviava o dinheiro”, disse a artista Márcia Fernandes, integrante do coletivo Ventoforte. “Ele age de má-fé. Ele que começou a destruição, inclusive, e o poder público foi deixando acontecer.”

Antes da demolição, o coletivo havia iniciado um processo para ser reconhecido como associação. A próxima etapa seria assumir legalmente o espaço. Nesta segunda-feira, 24, representantes do teatro se reuniram com os secretários municipais do Verde e do Meio Ambiente, Rodrigo Ashiuchi, e da Cultura, José Antônio Silva Parente.

Participantes do encontro contaram que a prefeitura acenou com a possibilidade de devolver o terreno ao coletivo e apoiar a construção de um novo teatro, em um projeto que deverá ter também a construção de quadras de esportes e um posto policial no Parque do Povo. O grupo de artistas, no entanto, tem ressalvas.

“Nós temos as plantas originais do projeto, que tem toda uma concepção diferente. Tivemos três teatros demolidos e eles estão falando em construir apenas um. Não vai ser exatamente igual ao que era, mas queremos conversar com os arquitetos para entender o tipo de construção que estão nos oferecendo e queremos saber como será a administração, se mista ou com conselho da prefeitura”, disse Márcia. “Começou-se um movimento. Nós conseguimos fechar com eles para a gente ir fazer um inventário do que ainda está sob escombros. Não está definido, mas temos um encaminhamento.”

O outro lado do imbróglio

Gonçalves disse à coluna que as acusações do coletivo não procedem. Segundo ele, Kugli foi quem construiu a barraca de coco no local porque o espaço não havia conseguido ser fomentado por leis de incentivo.

“Eles precisam provar as coisas que falam. A gente gasta cerca de R$ 500 mil a R$ 700 mil por ano para manter o espaço”, afirmou ele. “Precisamos de verba. São 7.000 metros quadrados para limpar de árvores que caem, telhados que quebram, cabos de energia que são roubados e funcionários que devem ser pagos. Tudo gera uma logística; e a gente precisava da lanchonete, estacionamento e locação para manter o espaço.”

Gonçalves também foi criticado por membros do coletivo por ter solicitado uma reparação pela demolição do espaço à prefeitura equivalente a R$ 200 milhões. “Isso foi coisa do advogado, que botou R$ 200 milhões de reparação por causa do espaço ser tombado, não porque eu quero ficar rico. Eu não quero isso. O que eu quero é que se reconstrua o teatro e que a prefeitura construa um museu Ilo Kugli em homenagem a ele, que foi um dos maiores teatrólogos do país”, comentou.

Ele diz, ainda, que Márcia havia sido expulsa por Kugli do coletivo antigamente, o que ela nega e o chama de “mentiroso contumaz”.

O deputado estadual Carlos Giannazi, do PSOL, entrou com uma ação no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) pedindo que o caso seja investigado para comprovar se houve culpa da prefeitura de São Paulo e que seja feito um inventário dos prejuízos com a demolição para o ressarcimento posteriormente. Também entrou com uma representação no Ministério Público de São Paulo na área do meio ambiente e mudanças climáticas, órgão que cuida da administração dos bens tombados da cidade.

O coletivo de artistas estuda entrar com uma ação no Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de São Paulo) para destituir Gonçalves da posição de administrador do teatro.

Enquanto os lados não se resolvem, o show está parado no Ventoforte.

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