Bombardeado dentro e fora do governo, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) teve seu momento de DR com o mercado financeiro na manhã desta terça-feira, 25. Em evento organizado pelo BTG, ele subiu ao palco para ser entrevistado e, aparentando serenidade, aproveitou o espaço para discutir a relação e lavar roupa suja depois de quatro meses sob críticas. Haddad vinha sendo acusado de ser mais político do que ministro da Fazenda, além de ter a sua força dentro do governo é questionada pelo próprio mercado e até por colegas ministros.
Ao vivo, diante de uma plateia de investidores e analistas, Haddad tentou separar o que chamou de discussão “de Estado” sobre a economia da disputa eleitoral e descartou a possibilidade de ser candidato à sucessão presidencial em 2026. Disse que estava ali para “falar como brasileiro que não é candidato a nada no ano que vem”. E, numa crítica ao que internamente no governo classifica-se como má vontade do mercado com o presidente Lula, o ministro destacou que o mercado, hoje, está “muito mais tenso do que em qualquer outro momento” da história recente, apesar de a economia brasileira ter vivido “momentos delicados” várias vezes desde o Plano Real.
O ministro havia sido questionado justamente sobre a piora nas expectativas e a disparada do dólar, na virada do ano, quando a cotação da moeda americana chegou a bater R$ 6,30. “Em 2022, a dívida líquida era de 60% do PIB, muito parecida com agora, a Selic estava em 12%, tínhamos dívida em dólar e sem reservas cambiais e ninguém achava que o Brasil ia quebrar”, afirmou. O ministro realçou que não estava falando “de preferências ideológicas ou em quem votar” e argumentou que “não é bom para país ficar negando as coisas e inventando um passado exuberante que não aconteceu”.
Minutos antes, Haddad havia recebido a palavra do anfitrião, o presidente do conselho de administração e sócio do BTG, André Esteves, que mesclou elogios com recados velados. Dirigindo-se ao ministro, Esteves destacou a “seriedade com que tem conduzido a economia” e o fato de, mesmo não sendo oriundo da área econômica, ter aprendido “rápido que equilíbrio fiscal é o que leva a juros estruturais mais baixos”.
Ministro fraco
Em janeiro, Haddad havia sido rotulado de “ministro fraco” por Gilberto Kassab, presidente do PSD, partido que integra a base de apoio do governo, num evento também com analistas e investidores do mercado financeiro. Na ocasião, o comentário geral, após as duras críticas de Kassab, foi que o chefe do PSD só havia verbalizado o que o mercado já achava. Na época, circularam rumores segundo os quais até o próprio André Esteves, aliado e defensor de Haddad de primeira hora, havia “perdido as esperanças”.
O encontro de janeiro ocorreu após um final de ano desastroso no relacionamento do ministro com o mercado. A condução de toda a construção e o anúncio do que deveria ser um pacote de corte de gastos fez com que as expectativas em relação ao compromisso da equipe econômica com o equilíbrio das contas públicas se deteriorassem dentro e fora do país. Isso, junto com um cenário externo tenso por causa das incertezas em relação ao início do governo de Donald Trump nos Estados Unidos, fez o dólar bater recorde histórico.
De lá para cá, parte do PSD tentou minimizar a fala de Kassab, mas nesta semana, o político retomou os ataques - e no mesmo tom. Indagado sobre os rumos da economia, em evento na Associação Comercial paulista, Kassab disse que Haddad tem “dificuldade de comandar" e "não consegue se impor no governo". "Ministro da Fazenda fraco é sempre um péssimo indicativo”, disse. Além de presidir o partido, que tem assento no primeiro escalão do governo Lula, Kassab é secretário do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), cotado como possível candidato presidencial.
Fogo amigo
O bombardeio sobre o ministro da Fazenda ganhou (mais) adeptos dentro do próprio governo e do PT, onde ele já enfrentava resistência. Haddad já era duramente criticado por petistas como Gleisi Hoffmann, presidente do partido, por falar excessivamente em “cortes e ajuste fiscal”. Agora, o fogo amigo vem de colegas de Esplanada e de outros integrantes da base aliada, que temem uma guinada populista do ministro na tentativa de recuperar a popularidade de Lula, comprometendo o desempenho da economia.
Embora tenha se esforço para refazer os laços com o mercado nesta terça, Haddad ouviu recados sutis. Os elogios de André Esteves a ele foram seguidos mensagens nas quais, segundo amigos próximos, o banqueiro mostrou que ainda mantém a percepção do enfraquecimento do ministro. Na abertura do evento, o banqueiro ressaltou a importância de se “criar um bom ambiente de negócios para geração de emprego pleno”, sinalizou que “dá para ir um pouco mais” no equilíbrio fiscal e pediu apoio ao governo. “Cabe a nós apoiar essa batalha pelo som senso econômico”, defendeu Esteves.
“André teve a postura de um banqueiro. Mas ele super acredita que o Haddad se tornou um ministro fraco”, disse, sob reserva, um dos presentes, dono de estreitas relações com o comandante do BTG.