Figura recorrente no noticiário, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem sido um alvo fácil para opositores do presidente Lula que querem desgastar a imagem do governo. Nesse caso específico, a exposição negativa cria problemas em três frentes: i) primeiro, Haddad, pelo cargo que ocupa, é o ministro mais forte do governo e comanda um time que mexe diretamente com a vida do cidadão e do empresariado; ii) além disso é o interlocutor do governo junto ao mercado financeiro interno e externo, por quem o presidente nutre profunda irritação e iii) como se não bastasse, é um nome que cresce a cada dia como possível sucessor de Lula, caso o presidente não concorra à reeleição em 2026.
Com o peso triplo que carrega, o ministro tem sido vítima de sucessivos memes, ataques e fake news nas redes sociais. As mais recentes, com grande poder para criar associações que costumam ter efeito na guerra da comunicação política e eleitoral.
Sidônio Palmeira, que assumiu nesta terça-feira, 14, o comando da comunicação oficial do governo com o desafio de reformular a percepção sobre o governo já começa em desvantagem. No último ano, criou-se um passivo nas redes em torno da imagem de Haddad que o governo não deu muita atenção. Agora, além fazer a população compreender as realizações do governo Lula nos dois primeiros anos de mandato, o publicitário terá que desfazer arranhões na imagem de figuras importantes, entre elas o próprio Haddad. Três momentos recentes, nos quais o ministro da Fazenda foi alvo de fake news, ajudam a entender o tamanho desses problemas para a comunicação oficial.
Taxad ou Zé do Taxão
Em julho do ano passado, houve um movimento forte de associação do nome do ministro e, por consequência, da gestão Lula como cobradores implacáveis de impostos. O movimento “Taxad” ou “Zé do Taxão” ganhou força na esteira de debates e definições de medidas econômicas que afetam a vida população. Entre elas: a regulamentação da reforma tributária, que discutia o nível de tributação de alimentos processados como cerveja e a tributação de compras em plataformas internacionais, como Shein e Shopee.
E isso aconteceu no momento em que a percepção positiva do trabalho do ministro no comando da Fazenda teve queda nas pesquisas de opinião e tudo foi compartilhado por bolsonaristas. Na época, a orientação interna no Ministério da Fazenda foi não responder. Com isso, as mentiras circularam livremente.
Taxação do Pix
Na última semana, um vídeo falso, no qual o ministro da Fazenda falava sobre cobranças de impostos no Pix, sobre pets, nas apostas nas loterias online e até de grávidas varreu as redes sociais. O vídeo era manipulado com uso de IA (inteligência artificial).
Com a mudança no comando da comunicação, apesar de Sidônio não ter assumido ainda a Secom no dia do ocorrido, desta vez houve resposta ampla. Haddad e Lula gravaram vídeos desmentindo a taxação do Pix, secretários e até a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) foram a público para desmentir as afirmações.
No entanto, na Fazenda teme-se que parte do estrago não seja revertido. “Tem uma semente que foi plantada e o desmentido nunca tem o mesmo alcance da mentira”, avalia um técnico da equipe econômica.
[caption id="attachment_5172" align="aligncenter" width="848"] Meme com a imagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que circula nas redes sociais[/caption]
Taxa sobre carros velhos
Nesta semana, um novo post divulgado nas redes afirma falsamente que o governo federal propôs uma taxa ambiental para veículos com mais de vinte anos de uso, com base no valor atual do carro. Isso seria necessário para arrecadar recursos para programas sociais como Bolsa Família e Pé-de-Meia, além de contribuir para o funcionamento do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e da Funai (Fundação Nacional do Índio).
Dias difíceis pela frente
O ministro Haddad reagiu indignado na manhã desta terça-feira, 14. “Mais uma fake news”, disse. “Algumas pessoas não estão levando a sério o que significa para a democracia. Você coloca na boca de uma pessoa uma frase que ela não proferiu e com requinte tecnológico que faz com que muita gente acreditasse naquilo e causou problemas grandes.” Segundo o ministro, isso é consequência do alinhamento das big techs (Facebook, Instagram e o X, antigo Twitter, por exemplo) com a extrema direita. “Vamos ter efetivamente dias difíceis pela frente. E isso consome energia do governo, do Estado, funcionários públicos para combater um tipo de barbaridade.”
Haddad ressaltou que o momento é delicado para a democracia porque “existe uma extrema direita hoje organizada no mundo e com poder de fogo bastante grande”. “Hoje, de novo, estou sendo vítima. Tem minha foto na matéria. De novo estou sendo vítima disso. É muito sério e muito desagradável passar por isso uma segunda vez na mesma semana.”
O ministro afirmou que recebeu apoio de vários políticos, inclusive da oposição, que telefonaram prestando solidariedade. “Nenhum bolsonarista, evidentemente, mas muita gente que não é da base de sustentação do governo ligou, preocupada com isso.”