Aliados de Tarcísio de Freitas avaliam que, ao definir Guilherme Derrite como relator do projeto de lei antifacção, Hugo Motta devolveu algum fôlego a uma eventual candidatura do governador de São Paulo à Presidência. Motta é do Republicanos, mesmo partido de Tarcísio.
Diante do cenário favorável a Lula que vinha se consolidando nos últimos meses, desde o tarifaço de Donald Trump, Tarcísio passou a dar sinais de afastamento da possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto.
Nos bastidores, políticos do entorno do governador dizem há tempos que ele aceitaria a empreitada, caso ungido por Jair Bolsonaro, se pesquisas indicassem boas chances de vitória contra o presidente. A possibilidade de passar mais quatro anos no Palácio dos Bandeirantes para concorrer ao Planalto só em 2030, sem Lula no páreo, costuma ser citada pelos aliados como fator nada desprezível nos cálculos políticos de Tarcísio de Freitas.
Com a escolha de Derrite, secretário de Segurança paulista, no entanto, interlocutores do governador entendem que, ainda que indiretamente, Tarcísio ganhou um flanco pelo qual trabalhar nacionalmente, em um tema de grande apelo junto à população: a segurança pública e o combate às facções criminosas.
A área da segurança, avaliam esses aliados, é uma das principais debilidades do governo. Embora o projeto de lei antifacção seja uma iniciativa do Palácio do Planalto, o movimento de Motta por Derrite foi visto entre governistas e oposicionistas como um gesto à direita que inevitavelmente será explorado eleitoralmente.
Depois da escolha do relator, os embates com o governo já começaram. Guilherme Derrite tem sido criticado por ministros e parlamentares aliados de Lula por uma suposta tentativa de enfraquecer a Polícia Federal através do texto.
Em uma publicação no X, antigo Twitter, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, do Rio de Janeiro, ressaltou que Tarcísio é pré-candidato à Presidência ao acusar Derrite de “furtar” o projeto do governo.
“O relator Guilherme Derrite, secretário de Segurança de Tarcísio de Freitas, pré-candidato à Presidência, ‘furtou’ o texto do governo e o contaminou politicamente, transferindo-o para dentro da Lei Antiterrorismo e criando uma ‘equiparação funcional’ entre facções e terrorismo, algo que o próprio projeto original evitava expressamente. Essa alteração desfigura o conteúdo técnico e transforma uma política pública nacional em instrumento de disputa eleitoral, desviando o propósito original do PL”, escreveu Lindbergh.

