“Não se esqueça dos pobres”, disse o cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes ao ouvido de Jorge Mario Bergoglio, em Roma, no final do conclave de 2013. Um conselho que calou fundo no recém-eleito papa, o primeiro latino-americano da história da Igreja Católica.
"Aquilo entrou na minha cabeça. Imediatamente lembrei de São Francisco de Assis”, contou Bergoglio sobre a escolha do nome que levaria em seu pontificado. Uma promessa de devotar sua vida aos pobres que o argentino não abandonou em nenhum momento de seus 12 anos à frente da Santa Sé.
"Francisco foi completamente inesperado, não cabia em nenhuma caixa. Ele saiu daquela formalidade do Vaticano. Porque, antes dele, o papa era uma figura intangível”, disse à coluna o padre Padre Ricardo Rezende Figueira, um dos nomes mais reconhecidos no Brasil por sua luta pelos mais pobres. Para ele, Francisco rejeitou toda a pompa para viver em humildade.
Em entrevista à coluna, Figueira lembra como, para além dos discursos e pregações das encíclicas, todos os gestos de Francisco foram de humildade. Ele rejeitou os luxuosos sapatos vermelhos de Bento XVI, seu antecessor. Decidiu morar modestamente em um dos aposentos da Casa Santa Marta. Comia no refeitório e dispensou o mordomo. Ele mesmo se levantava para pegar seu café e o de seus visitantes.
"O Papa Francisco era encontrado à noite por pessoas do Itamaraty no meio de pessoas em situação de rua. Ele levantava à noite para circular entre pessoas em situação de rua”, lembrou o padre, que é também professor da UFRJ.
Preocupado com os sem-teto, sobretudo por migrantes, ele mandou instalar banheiros, com chuveiro e barbearia, para atendê-los. Em 2015, o Vaticano abriu lavanderias para a população em situação de rua, as chamadas “lavanderias do Papa Francisco”.
Foi a defesa dos migrantes, aliás, que tornou tensa a relação do Papa com Donald Trump. Em 2016, quando o republicano ainda era pré-candidato à Casa Branca e prometia construir um muro na fronteira com o México, Francisco disse que Trump "não é cristão". "Ele falava sempre nos migrantes. Falava contra a expulsão dos migrantes. Ia na contramão dos discursos hegemônicos”, salientou o padre Ricardo.
O padre lembra que, na primeira viagem internacional de Francisco em seu pontificado, para o Brasil, ele surpreendeu a todos aceitando o chimarrão que lhe foi oferecido na rua por um fiel. Fez isso duas vezes naquela viagem ao Rio, em 2013, para desespero dos agentes de segurança.
“Os gestos dele foram a grande novidade. Esse aspecto da humanidade, do cuidado com o outro”, disse o padre, contando que, mesmo internado, Francisco ligava diariamente para um padre católico em Gaza para saber como estavam os fiéis em meio aos conflitos na região.
O acolhimento de Francisco, destacou o padre, não era apenas com os pobres. Ele abriu, de certa forma, a Igreja para as pessoas LGBTQIA+ e colocou o foco da Santa Sé nos problemas ambientais.
Para Ricardo Rezende, é muito difícil dizer quais são os nomes favoritos à sucessão de Francisco. Ele torce para que seja um cardeal com perfil semelhante ao do pontífice.