Nos últimos dias, em mais de uma oportunidade, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, destacou a importância do diálogo da instituição com a sociedade. Na visão do chefe da autoridade monetária, no momento prevalece a máxima “não basta ser, tem que parecer”, sobretudo pela expectativa do governo de que a economia gere dividendos políticos no ano que vem.
Com isso, mais do que fazer a inflação convergir para a meta, o BC tem o desafio de fazer as pessoas perceberem a melhora dos preços na vida delas. No acumulado em 12 meses, o IPCA, índice referência pela economia brasileira, subiu 5,35%, quase o dobro da meta de 3% fixada pelo governo. Embora a taxa de juros esteja no maior patamar dos últimos 20 anos, a oscilação nos preços resiste a entrar para dentro do intervalo admitido oficialmente, que vai 1,5% a 4,5% no período de 12 meses.
O índice acumulado em 12 meses encerrados em junho está menor do que os 5,48% registrados em março de 2025. Nos cálculos do BC, cairá para menos de 4,5% até março do ano que vem, o teto fixado pelo governo. No entanto, a inflação percebida pela população nos supermercados e no dia a dia é bem diferente. Nos últimos 12, de acordo com dados do IBGE, o preço geral do grupo alimentação e bebidas, por exemplo, subiu 6,6% e, olhando isoladamente alguns produtos que são importantes na mesa dos brasileiros, o salto é bem maior.
As carnes em geral tiveram alta de 23,63% no período. O acém aumentou 28,65%. Considerado um corte de segunda, é uma alternativa para quem não pode comprar carne de primeira. O patinho, tido como carne de primeira, teve reajuste de 25,50% nos 12 meses terminados em junho.
Até a picanha, usada como símbolo de consumo durante a campanha presidencial, teve alta bem acima da inflação oficial: 11,97%. O açúcar e derivados foram na mesma direção (+ 9,27%), assim como o ovo de galinha (+6,83%), o queijo (+6,16%), o iogurte (+8,51%), o pão francês (+6,44%), o óleo de soja (+19,46%) e o café moído (+77,88%). Com isso, fica até difícil sentir algum alívio do bolso e perceber, por exemplo, a queda de 3,14% no preço do azeite de oliva, de 1,45% dos pescados, de 40,59% da cenoura, de 38,73% da cebola ou de 16,77% do arroz.
Além de fatores internos, como os gastos públicos, a evolução da taxa de câmbio é decisiva para o controle dos índices de preços, já que tem reflexo direto em vários setores da economia, em especial, dos alimentos. Com o cenário externo dando sinais de mais turbulências pela frente, diante do embate tarifário do Brasil com os Estados Unidos, o desafio do BC só aumenta, seja na convergência do índice oficial ou no convencimento da população.