Apesar de serem muito parecidos nas conclusões, o relatório da Polícia Federal e a denúncia encaminhada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, ao Supremo guardam algumas diferenças importantes quanto ao desenrolar dos fatos relacionados à tentativa de golpe de Estado pelo grupo de Jair Bolsonaro. O PlatôBR selecionou cinco pontos que mostram abordagens distintas dos fatos nos documentos das duas instituições.
1 - Quando tudo começou
Enquanto a PF indica que o grupo de Jair Bolsonaro planejava um golpe desde o início do governo, em 2019, a PGR destaca uma data específica: 22 de março de 2021. Uma decisão tomada duas semanas antes pelo ministro Edson Fachin, do STF, tornou Lula elegível. O petista já aparecia como favorito nas pesquisas de intenção de voto. A partir de então, os aliados do então presidente passaram a defender que ele começasse a desafiar as decisões do STF e subiram de tom contra a Justiça.
2 - O recuo dos "kids pretos"
No dia 15 de dezembro de 2022, os "kids pretos" recuaram do plano já em curso de “neutralização” do ministro Alexandre de Moraes. Parte do grupo estava próxima da casa do relator do processo do Supremo. A PF aponta um atraso de horário de deslocamento de Moraes para justificar o recuo. Para a Procuradoria, a desistência aconteceu depois que os golpistas falharam na tentativa de conseguir o apoio do Comando do Exército. Generais da cúpula da força teriam feito uma grande pressão contra a quebra da legalidade na véspera e ao longo daquele dia.
3 - Discurso de 7 de setembro
A PGR dá maior relevância do que a PF para os discursos de Bolsonaro no dia 7 de setembro de 2021 em Brasília, de manhã, e São Paulo, à tarde. Nos dois momentos, o então presidente fez ataques a Alexandre de Moraes e diz que não cumpriria decisões do Supremo.
4 - Reunião com embaixadores
Na denúncia, a PGR destaca a importância da reunião de Bolsonaro, em julho de 2022, com embaixadores e representantes diplomáticos. Na ocasião, Bolsonaro mencionou supostas fraudes nas urnas para tentar conseguir alguma tolerância internacional quanto a um futuro golpe. Nesse ponto, a Procuradoria seguiu na mesma linha da fundamentação que levou à inelegibilidade do ex-presidente no TSE. A PF não valorizou esse fato.
5 - Contraponto à defesa
O trabalho da PGR rebateu com veemência os argumentos usados pelo grupo de Bolsonaro para tentar desacreditar o relatório da Polícia Federal. Dessa forma, a denúncia procura se antecipar às alegações da defesa do ex-presidente nas próximas etapas do processo. A PF, claro, ainda não dispunha desses elementos durante as investigações. Com a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e com as posições da defesa, a PGR estabeleceu o compromisso do ex-presidente com o plano de golpe ao longo de seu governo.