No dia 14 de abril, André Mendonça foi o único a votar no plenário virtual do STF pela parcialidade de Alexandre de Moraes para conduzir as investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. Os outros dez ministros votaram no sentido contrário. Nos processos sobre a trama golpista, Mendonça se habituou a defender sozinho suas posições no tribunal.

No domingo, 20, ele experimentou outra sensação: reuniu em torno de uma pregação especial de Páscoa quase 6 mil pessoas online e outras milhares dentro da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em São Paulo. Após três anos sabáticos, como ele mesmo define o período distante dos holofotes religiosos, voltou a pregar. Ressuscitado, o reverendo André Mendonça recebeu aplausos e elogios da plateia. Uma unanimidade.

Mendonça era funcionário de carreira da AGU (Advocacia-Geral da União). Paralelamente, cultivava o lado religioso e, por essa vertente, ficou próximo de Jair e Michelle Bolsonaro. Foi nomeado advogado-geral da União. Em dezembro de 2021, tomou posse como ministro do STF.

O então presidente o escolheu porque queria um ministro “terrivelmente evangélico”. Desde então, Mendonça tem seguido a mesma linha ideológica de Bolsonaro nas votações caras ao ex-presidente no STF - desde pautas de costumes até julgamentos sobre a tentativa de golpe de Estado.

Embora nunca tenha se desligado da Igreja, o ministro havia feito um intervalo nas pregações. Decidiu retomar a atividade em um momento político delicado para Bolsonaro. O ex-presidente está inelegível, virou réu no STF em março e está hospitalizado após complicações decorrentes do atentado sofrido em 2018, quando levou uma facada em um evento de campanha.

Na mesma esteira de assumir maior protagonismo, Mendonça criou uma conta no Instagram em março. Inaugurou as postagens no dia 29, três dias após Bolsonaro ser transformado em réu. Postou uma pregação intitulada “Por que Deus tolera a injustiça?”. No vídeo, ele recomenda aos seguidores: “Tenha paciência, espera. Não é no nosso tempo, não é do nosso jeito”.

No culto de domingo, o reverendo André Mendonça explicou por que criou uma conta na rede social: “Tinha um monte de Instagram fake, daí tinha que derrubar. É mais fácil eu ter um Instagram, pelo menos controlamos aquilo que postamos”.

Durante pouco mais de uma hora, Mendonça falou de pé aos fiéis sobre os planos de Deus para as vidas das pessoas, o significado da crucificação, o desafio de perdoar 70 vezes sete vezes, os inimigos e a traição de amigos, sempre amparado por trechos da Bíblia. Esbanjou retórica e carisma.

Quem acompanhava pelo canal da Igreja no YouTube não poupava elogios ao pastor: “Senhor me perdoe por ter criticado o André Mendonça, eu acha que ele ia salvar o nosso Brasil. Mas hoje estou vendo que o senhor está fortificando ele para a luta”, escreveu Ana Paula. Moisés Aguiar retrucou: “Ana Paula, sem militância política. Respeite o momento, que suas paixões sejam deixados para o lado de fora do coração”.

Outros fiéis escreveram: “Obrigado por estas mensagens tão lindas meu pai, que Deus abençoe o nosso querido irmão André Mendonça”. “Precisamos orar para que Deus dê palavras de sabedoria ao nosso irmão André Mendonça”. “A paz que excede todo o entendimento, louvado seja Deus”.

Do altar, Mendonça lamentou ter colecionado inimigos nos últimos anos. “Durante um tempo, eu achei que não ia ter inimigos. Eu olhava para Davi (Rei de Israel cuja história é narrada na Bíblia) e falava: ´o que ele faz pra ter tanto inimigo?´. Eu tinha meus 30 anos. Siga a Cristo, tente fazer o certo e você vai ver que brota (inimigo)”.

Mendonça lembrou a traição de Judas para dizer que, dos inimigos, não se espera muita coisa. Mas, quando um amigo trai, é mais difícil lidar com a situação. E confessou: “Eu tenho dificuldade em lidar com o perdão”.

O reverendo aproveitou a pregação para alertar mulheres em situação de violência doméstica: “Jesus Cristo veio para te libertar, inclusive disso. Se você precisa de ajuda, procure uma liderança da Igreja, não viva esse jugo. Relação de marido e mulher não é para isso. Deus não quer isso para sua vida. Quando ele carrega na cruz nossas dores, é pra nos livrar dessas dores”.

Mendonça também recomendou à plateia que entregasse os problemas nas mãos de Deus: “O problema é quando a gente acha que sabe o que é melhor para nossa vida, daí a gente briga com Deus”. E afirmou: “Seja crente, como eu gosto dessa expressão. Tinha um lado preconceituoso nessa expressão, mas que expressão! Eu sou crente em Jesus Cristo”.

Ao fim da pregação, o pastor pediu que as pessoas abraçassem o irmão que estava ao lado na Igreja. E finalizou: “Agora, quem quiser, me dê um abraço aqui”.