Os casos de intoxicação por metanol em São Paulo se tornaram mais um foco de disputa política com horizonte nas eleições de 2026. Nesta terça-feira, 30, o Ministério da Justiça e o governo estadual convocaram entrevistas coletivas para divulgar as investigações abertas sobre a adulteração de bebidas que provocou pelo menos 22 casos de internação em cidades do estado, com cinco mortes confirmadas pela Secretaria de Saúde.
Pelo governo federal, no final da manhã, falaram os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça) e Alexandre Padilha (Saúde) e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Eles anunciaram a abertura de um inquérito para investigar a possível ligação da adulteração de bebidas com a organização criminosa PCC.
A suspeita de envolvimento da facção com essa ocorrência começou no último domingo, quando a ABCF (Associação Brasileira de Combate à Falsificação) disse em nota que o metanol encontrado nas bebidas que causaram intoxicação pode ser o mesmo importado ilegalmente pelo PCC, pelo porto de Paranaguá (PR), para “batizar” combustíveis.
“Trata-se de uma ocorrência grave, com reflexos na saúde pública. O inquérito policial permitirá verificar a procedência da droga e a possível rede de distribuição”, disse o ministro da Justiça na entrevista. “No momento, as ocorrências estão concentradas em São Paulo, mas tudo indica que é uma ocorrência que transcende os limites do estado”, Lewandowski.
Para o diretor-geral da PF, existe uma conexão do produto usado na adulteração das bebidas com o Paraná. “Uma parte disso passa pela importação de metanol pelo [porto de] Paranaguá. Portanto a necessidade de entrarmos nesse caso por essas razões. A investigação dirá se há conexão com o crime organizado”, afirmou o diretor da PF.
Padilha disse que o Ministério da Saúde vai publicar uma nota técnica para orientar sobre os procedimentos a serem adotados em casos de intoxicações por metanol.
Fraudes “rotineiras”
Em São Paulo, governador Tarcísio de Freitas convocou a entrevista para rebater no início da tarde as suspeitas do Ministério da Justiça sobre o envolvimento da facção criminosa. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, também participou do encontro com jornalistas. Tarcísio informou que inquéritos abertos para investigar os casos levaram a suspeitos que não estão ligados ao crime organizado e que destilarias clandestinas identificadas não têm relação entre si.
“Em São Paulo, tudo que acontece é o PCC. Tem se especulado sobre a participação do crime organizado nessa adulteração de bebida. Só para deixar claro, não há evidência nenhuma da participação de crime organizado nisso”, afirmou Tarcísio. “Os inquéritos que estão abertos e que estão chegando a pessoas que estão trabalhando com adulteração nessas destilarias clandestinas são pessoas que não têm relação com o crime organizado, são pessoas que fraudam rotineiramente bebidas”, acrescentou o governador.
Briga de versões
A divergência em torno da intoxicação com metanol repete a disputa que o Planalto e o governo de São Paulo travaram no final de agosto, quando as forças policiais federais e estaduais deflagraram uma operação contra o PCC que atingiu empresas na avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo.
Naquele momento, as providências foram tomadas em conjunto, pelas forças de segurança nacional e do estado, mas entrevistas coletivas foram convocadas simultaneamente. Agora, as teses divergentes levantadas divergentes explicitaram que as investigações seguem rumos totalmente diferentes.
Nos dois episódios, as versões divulgadas pelos governos de Lula e Tarcísio revelam estratégias para as eleições de 2026. No cenário atual, o petista e o governador de São Paulo despontam como possíveis candidatos ao Planalto. O presidente tem dito que deve concorrer a mais um mandato, e o governador nega a intenção de entrar na corrida ao Planalto, mas ele é o nome preferido do Centrão e de parte do setor empresarial.