Enquanto o esquema de desvio de recursos públicos investigado pela Operação Overclean avançava, Lucas Lobão, ex-coordenador do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), era alvo de homenagens e aplausos de políticos baianos. O grupo de que Lobão faria parte teria desviado recursos de emendas parlamentares destinadas ao Dnocs e a prefeituras, por meio de licitações fraudulentas e superfaturadas, movimentando cerca de R$ 1,4 bilhão em fraudes e lavagem de dinheiro.
Embora o volume de recursos envolvidos seja alarmante, parece que o movimento de Lobão passou despercebido por muitos setores políticos.
Até recentemente, Lucas Lobão era tratado com pompas na política baiana. As homenagens que recebeu por autoridades locais chama a atenção.
Em 2020, o deputado estadual Júnior Muniz (PP) indicou Lobão para receber a Comenda Dois de Julho, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa da Bahia, em reconhecimento aos "serviços prestados ao povo baiano". A condecoração, que celebra personalidades que contribuem para o desenvolvimento do estado, foi atribuída a Lobão em um momento em que o esquema criminoso, segundo a Polícia Federal, estava em pleno funcionamento.
No ano seguinte, em 2021, o vereador de Jequié José Augusto de Aguiar Brito Filho, conhecido como Gutinha (União Brasil), também prestou homenagem a Lobão, com uma Moção de Aplausos na Câmara Municipal de Jequié, destacando seu trabalho em prol da infraestrutura da cidade e do fortalecimento da zona rural. A justificativa oficial da moção incluiu elogios à entrega de máquinas, tratores e poços artesianos, que visavam melhorar as condições de vida e aumentar a produção agrícola na região.
Em 2023, mais uma distinção foi concedida a Lobão, desta vez pela Câmara de Salvador. Sob proposição do vereador Alexandre Aleluia (PL), ele recebeu a Medalha Thomé de Souza, prêmio que reconhece pessoas que prestaram relevantes serviços ao município. A medalha é uma das maiores honrarias da capital baiana e é escolhida pela Mesa Diretora da Câmara.
Operação Overclean
A investigação que levou à prisão de Lucas Lobão e outros envolvidos teve início em 2023, a partir de uma denúncia recebida pela Controladoria-Geral da União (CGU). A operação contou com a colaboração da Polícia Federal, da Receita Federal e da Agência Americana de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations).
A operação desmantelou um esquema de desvio de recursos no Dnocs, com foco em contratos superfaturados e lavagem de dinheiro, principalmente em estados como Bahia, Tocantins, São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Até o momento, foram expedidos 43 mandados de busca e apreensão, 17 mandados de prisão preventiva, além de ordens de sequestro de bens dos investigados.