O voto do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo que julga Jair Bolsonaro e outros sete réus acusados de tentativa de golpe de Estado, foi marcado por ironias, farpas e risadas no plenário da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal). Entre comparações inusitadas e provocações, Moraes usou o tempo da manhã e do início da tarde para desmontar as versões das defesas e reforçar a gravidade da trama golpista.
Logo no início, ao comentar as anotações encontradas com Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e hoje deputado federal, Moraes fez uma graça: “Meu querido diário”. O ministro ironizou a tese de que se tratava de registros pessoais, destacando que eram, na verdade, comunicações diretas com o então presidente. “Isso não é mensagem de um delinquente do PCC para outro. Isso é uma mensagem do diretor da Abin para o então presidente da República”, afirmou, provocando risos na Primeira Turma.
O relator também deu uma estocada nos réus ao abordar o “plano punhal verde amarelo”, que previa o assassinato de autoridades, entre elas o próprio Moraes: “Não é crível achar que ele imprimiu, foi ao Alvorada, ficou uma hora e seis minutos com o presidente e fez barquinho de papel com o plano. Isso seria ridicularizar a inteligência do tribunal.”
O relator também recuperou falas de Bolsonaro em lives, nas quais o ex-presidente questionava o sistema eleitoral e mencionava uma suposta “sala escura” no TSE. Com sarcasmo, Moraes rebateu: “Alguém que em 40 anos ganhou eleições para deputado e foi eleito presidente da República em 2018… sala escura?”.
Com essas informalidade, Moraes deu alguns toques de leveza em um julgamento inédito que trata de fatos de grande gravidade. Pela primeira vez na história, um ex-presidente da República e militares de alta patente enfrentam a Suprema Corte sob a acusação de tentativa de golpe de Estado.