Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, falou sobre o conflito do Irã com Israel e Estados Unidos no programa Matinal do canal de notícias Amado Mundo, nesta sexta-feira, 27. Segundo ele, Israel atacou o Irã como forma de desviar o foco de Gaza e com apoio dos Estados Unidos, ataque que classificou como “uma coisa bárbara” e um ato unilateral de Israel.
“O Irã, que tem o programa nuclear mais vigiado do mundo, foi bombardeado por Israel, que tem 90 ou 100 armas nucleares. […] Israel atacou o Irã, talvez até para ofuscar o que está ocorrendo em Gaza”, disse Amorim.
O embaixador relembrou a época em que o Brasil mantinha boas relações com países de diferentes espectros ideológicos. Disse que, no governo Lula, o país era “amigo do Chávez e do Bush. Amigo do Irã e de Israel”.
Na entrevista, Amorim fez considerações sobre os principais assuntos da pauta internacional que afetam o cenário global. Para o embaixador, o mundo atravessa “um momento de altíssima tensão” e que vivemos um tempo comparável aos “círculos do inferno de Dante”, ao citar a guerra em Gaza, cuja taxa de mortalidade chega a configurar genocídio, e as tensões entre Rússia e Ucrânia.
Sobre a guerra na Palestina, foi direto: “Hoje virou uma guerra só” e não haverá paz sem a criação de um Estado Palestino. Relembrou de negociações em que participou durante a carreira, quando ainda havia um clima diplomático que possibilitava conversas entre israelenses e palestinos. Hoje, diz, “não há nada que um país como o Brasil possa se meter”.
‘Trump não esconde egoísmo’
Ainda no contexto de alta tensão mundial, fez críticas a Donald Trump:
“No início do governo Trump, eu não tenho nenhuma simpatia pelo Trump, mas eu achei que talvez houvesse uma chance no caso da Ucrânia e da Rússia. […] Como ele é um pouco menos ‘missionário’ nas atitudes dele, ele não esconde o seu egoísmo, ou o egoísmo norte-americano, no que está procurando fazer.”
Durante a conversa, foi relembrada uma cena em que Mark Rutte, secretário-geral da OTAN, teria feito uma brincadeira com Trump, chamando-o de “papai” — uma ironia sobre o modo como Trump se enxerga como um líder dominante ou paternalista perante os aliados ocidentais. Celso Amorim, ao comentar a piada, aproveitou para fazer uma crítica séria ao alinhamento submisso da Europa aos Estados Unidos. Veja abaixo:
Ao falar da atuação do Brasil nas relações internacionais, Amorim defendeu com ênfase o papel do país nos Brics, destacando que, ao contrário do G7, o grupo trata todos os membros de forma igualitária. Relembrou que nos tempos do G8+5, o Brasil era tratado como convidado “só para a sobremesa”. Para ele, os Brics são uma resposta à falta de representação dos países em desenvolvimento.
O embaixador ponderou sobre as críticas de Emmanuel Macron ao acordo Mercosul-União Europeia, reconhecendo que a pauta não está na linha de frente das negociações, mas que o acordo é estratégico num momento de esfacelamento da ordem mundial.
Disse Amorim na entrevista:
“O acordo Mercosul-União Europeia seria importante pra mostrar que nós temos alternativas de comércio, como são as nossas relações com a China e como devem ser também com a União Europeia e com os Estados Unidos. Essas negociações, em que as regras da ONU foram sempre respeitadas, são as únicas que podem trazer algum benefício pro país e, nesse caso, nos tornar menos dependentes do arbítrio da ainda maior potência econômica do mundo, que são os Estados Unidos.”