Ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, o empresário João Doria — fundador do Lide, organização que reúne lideranças empresariais — quer dar um basta na polarização. Segundo ele, o país precisa de “diálogo, pacificação e distância dos extremos, tanto da direita quanto da esquerda”. Em entrevista à coluna, Doria afirmou que não demoniza a política nem guarda ressentimentos em relação ao PSDB, mas que não se imagina de volta à vida pública.

“Eu estou fora da política e não quero voltar para a política”, acrescentou ele, que abriu mão de sua candidatura à Presidência da República em 2022 após embates nas prévias do PSDB.

Doria disse que agora passou de “João Trabalhador” — slogan de seus tempos como prefeito da capital paulista — para o que hoje define como “João Pacificador”. Em novembro de 2024, escreveu uma carta aberta a Lula.

“Acho que em alguns momentos na vida política e disputando campanhas, eu fui duro demais com algumas pessoas e agressivo em excesso. Não era preciso”, reconheceu. “Eu não tenho nenhuma dificuldade de reconhecer os meus erros e pedir desculpas por eles. Ninguém fica menor por pedir desculpas.”

“Eu tenho posições diferentes das do presidente Lula. Continuo mantendo as minhas convicções, mas acho que, em alguns momentos, eu passei de um limite onde eu poderia ter mantido as minhas convicções, mas mantido também a minha educação.”

Apesar de reconhecer ter sido “duro” demais com Lula no passado, Doria não poupou críticas à postura do presidente em relação ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Fernando Haddad procurou ser correto no diálogo, no entendimento com o setor privado. Ele teve a capacidade de ouvir, de fazer uma auscultação para buscar os melhores caminhos para desenhar a política econômica deste governo. E foi atacado dentro do próprio partido do presidente Lula, o que é uma situação bizarra”, criticou.

O ex-governador também lamentou os rumos do PSDB, partido que perdeu protagonismo político e poderá, segundo ele, ser extinto ou absorvido por outra legenda em breve.

Filiado à sigla por 22 anos, Doria declarou que não mantém contato com as atuais lideranças tucanas.

"Eu fico triste. Só espero que não esqueçam a boa história do PSDB e as contribuições que o partido ofereceu à democracia e aos movimentos de defesa da Constituição e do comportamento republicano."

Em interlocução frequente com o empresariado, ele também avaliou que o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixou o setor produtivo brasileiro “perplexo”.

“Vamos ter um período complexo ao longo desses quatro anos de governo Trump. Sabia-se que não seria fácil, dada a experiência anterior com Donald Trump, mas não se imaginava que ele fosse ser tão tenso, tão agudo, adotando medidas extremamente drásticas e que mudam também com uma velocidade incomum, afetando a maior economia do mundo num nível estranho, com medidas mal formuladas e mal planejadas.”