JACARTA – Joesley Batista, dono da J&F, controladora da JBS, está com tudo. Como mostrou o PlatôBR, ele e o irmão Wesley dominaram a cena no primeiro dia da viagem do presidente Lula à Indonésia, com anúncios de parcerias importantes com o governo local que tendem a tornar a companhia uma grande potência no país, em particular, e no sudeste asiático de maneira mais ampla.

Representantes da JBS negam que o governo Lula tenha sido o grande responsável pela costura do acordo. Dizem que a própria empresa está, desde pelo menos 2022, estreitando os laços com o governo de Prabowo Subianto — foi nesse processo de aproximação, aliás, que o grupo da família Batista pôs fim à intensa disputa societária que travava com empresários indonésios pela Eldorado Celulose.

Para marcar o que entendem ser a grande diferença em relação à política dos “campeões nacionais” dos dois primeiros mandatos de Lula, os irmãos Batista sustentam que agora é a JBS que está ajudando o governo brasileiro a avançar na relação com a Indonésia – e não o contrário. “Nós fomos convidados a vir (à Indonésia) olhar a oportunidade e demonstramos interesse”, disse Wesley Batista em Jacarta. “Não necessariamente tem a ver com nada de governo do lado brasileiro”, emendou.

É um argumento que faz sentido, mas apenas em parte. A máquina do governo tem, sim, colaborado no processo que vai resultar na ampliação dos negócios da J&F no arquipelágo indonésio. Não por outra razão, os irmãos e um de seus executivos foram os únicos empresários brasileiros a participar da cerimônia de assinatura de acordos bilaterais finalizados para serem anunciados durante a passagem de Lula pelo país.

A dupla roubou a cena. E não para aí. O protagonismo dos Batista também tem relação direta com o que deve acontecer de mais importante na segunda etapa da viagem de Lula à Ásia — o encontro do presidente com Donald Trump em Kuala Lumpur, na Malásia, previsto para este domingo, 26.

Como mostrou a repórter Mariana Sanches, do UOL, os gestos de simpatia de Trump na direção de Lula coincidem com um intenso trabalho de bastidores feito por um relevante personagem que é bastante próximo dos irmãos Batista, o embaixador Richard Grenell, expoente do movimento Maga (Great America Great Again) e conselheiro do presidente americano.

Foi Grenell quem articulou uma visita feita por Joesley ao republicano na Casa Branca na qual o dono da JBS argumentou que o tarifaço imposto ao Brasil estava custando caro para brasileiros e americanos.

Com as credenciais de quem deu dinheiro para a festa de posse de Donald Trump (US$ 5 milhões, doados por uma subsidiária do grupo), Joesley pediu que as medidas fossem revistas. Trump, na avaliação de autoridades brasileiras, se sensibilizou. Na sequência, se intensificaram os gestos do presidente americano na direção de Lula.

Nesta quinta, 23, indagado pelo PlatôBR sobre seu papel na aproximação, primeiro Joesley tirou por menos. “Quem sou eu?”, brincou. Depois, ele admitiu que tem ajudado na costura, por meio de contatos que tem em Washington. “Temos bons amigos, e tem muita gente que gosta do Brasil, apesar de outros não gostarem”, disse.