A ampla repercussão do discurso de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em defesa da anistia de Jair Bolsonaro, feito na manifestação da Avenida Paulista no 7 de Setembro, foi acompanhada com atenção no Planalto. Embora o governador de São Paulo tenha defendido com veemência a anistia de Jair Bolsonaro, a avaliação no entorno de Lula é de que essa posição é temporária, pois seus movimentos apontariam para uma candidatura a presidente em 2026. 

Com Bolsonaro inelegível, Tarcísio é tido no meio político como nome certo para disputar o Planalto em 2026 e, por isso, ele é um alvo constante das críticas dos petistas. No domingo, tão logo o governador falou na manifestação, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), fez uma postagem no X: “Caiu a máscara de ‘moderado’ do Tarcísio. O que ele fez hoje na Paulista é crime tentar intimidar Alexandre de Moraes. Assumiu de vez discurso de extrema-direita de ataque às instituições por puro casuísmo eleitoral. Um irresponsável!”.

A publicação do deputado seguiu na linha da estratégia traçada por Lula de tratar o governador como concorrente em 2026. Cada vez com mais frequência, o presidente cita Tarcísio em discursos e entrevistas. Isso aconteceu, por exemplo, na reunião ministerial de 26 de agosto, quando o petista disse ter a expectativa de que o chefe do executivo paulista será seu principal concorrente no ano que vem. 

Provável candidato à reeleição, Lula voltou a citar o governador na sexta-feira, 29, em entrevista concedida à Rádio Itatiaia, de Minas Gerais. “Ele [Tarcísio] vai fazer o que Bolsonaro quiser, até porque sem Bolsonaro ele não é nada. Ele sabe disso”, disse Lula em entrevista à Itatiaia.

Ao fazer seguidas citações a um possível adversário em 2026, o petista adota uma estratégia geralmente desaconselhada pelos profissionais de marketing político, para não dar a mesma grandeza política a alguém que se pretende combater. Mas Lula força uma antecipação da exposição de Tarcísio como candidato, postura ainda não assumida pelo governador, que precisa equacionar sua relação com a família Bolsonaro e com seus eleitores. 

De acordo com interlocutores do presidente, as menções ao governador devem acontecer com mais frequência nas próximas semanas. Não só por parte de Lula, mas também pelo PT. O objetivo é mostrar que Tarcísio, mais que um candidato ligado a Bolsonaro, é uma construção do mercado e, com, o petista projetaria um discurso para a reeleição.

“A ideia é começar a mostrar que não se trata só de uma disputa entre o Lula e o Tarcísio, mas uma disputa de projetos”, enfatizou um petista, em conversa reservada com o PlatôBR. “A partir disso, mostrar que Tarcísio é o candidato que representa o fim da política de valorização anual do salário mínimo, da redução dos gastos sociais, da privatização do Banco do Brasil e da Petrobras, da política do Paulo Guedes, que não conseguiu fazer tudo, mas fez uma parte”, detalhou.

Apoio à anistia
Tarcísio intensificou nas últimas semanas o apoio à anistia dos condenados pela trama golpista. Antes do discurso na Paulista, ele havia dado outros sinais de aproximação com Bolsonaro. Em entrevistas, ele declarou apoio ao projeto que perdoa os condenados pela tentativa de ruptura institucional. O governador disse também não confiar na Justiça poucos dias antes do início do julgamento do ex-presidente. Afirmou, ainda, que o primeiro ato que praticaria como presidente da República seria conceder um indulto a Bolsonaro.

Na semana passada, Tarcísio esteve em Brasília para negociar com líderes partidários e com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a votação do projeto de anistia dos golpistas. Dessa forma, ele passou a se engajar, cada vez mais, em uma pauta nacional, que extrapola São Paulo, e que virou um ponto de união do Centrão com a direita. 

Da parte do governador, a estratégia é primeiro garantir o apoio de Bolsonaro, ou pelo menos, um pacto de não agressão, para depois caminhar para o centro do eleitorado, com pautas que agradem o mercado, focada, principalmente, na austeridade dos gastos públicos. Sobre as críticas de Lula, Tarcísio costuma desdenhar, dizendo que não liga para opinião do petista.