Depois de abraçar o discurso de pobres contra ricos, Lula deu ontem mais um passo que agradou a esquerda e esquentou sua militância. Ainda pela manhã, o presidente respondeu, pelas redes sociais, às declarações de Donald Trump de que havia no Brasil uma caça às bruxas contra Jair Bolsonaro.
“A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja”, escreveu o petista, sem citar o nome de Trump.
O presidente americano havia se arvorado a palpitar sobre o processo movido contra Bolsonaro e levantou para Lula cortar.
Mas, à tarde, instado por repórteres sobre o episódio, o presidente falou diretamente do americano:
“Eu não vou comentar essa coisa do Trump e do Bolsonaro. Eu tenho coisa mais importante para comentar do que isso. Esse país tem lei, esse país tem regra e esse país tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, dê palpite na sua vida, mas não na nossa”, disse Lula.
Esse enfrentamento entre Lula e Trump ganhou contornos mais graves, com a ameaça do americano de sobretaxar em 10% os países dos Brics caso o grupo deixe de trabalhar com o dólar americano.
“O mundo mudou. Não queremos um imperador. Somos países soberanos”, respondeu Lula. Para o presidente, “cada país é dono de seu nariz”. É uma posição que o petista tem desde os primórdios de seu governo, em 2003. E também coaduna com diplomacia brasileira, que defende a soberania dos países e tenta entrar minimamente em disputas internacionais.
No rechaço às ameaças de Trump, que diz acompanhar de perto as decisões tomadas pelos Brics no Rio de Janeiro, Lula não ficou sozinho. China e Rússia também se manifestaram.
Para além das implicações internacionais, o discurso do petista verga seu governo um pouco mais à esquerda e vai pavimentando uma linha de trabalho para a eleição do ano que vem. É mais um elemento que está sendo usado nas redes para tirar o governo das cordas.