Lula, por enquanto, ouve. É dessa forma que alguns líderes do Congresso falam sobre a reação do presidente da República nas vezes em que ele foi aconselhado a fazer um gesto de perdão para amenizar a pena das pessoas condenadas pelos atos golpistas de 8 de Janeiro. Senadores e deputados que o acompanharam em viagens no Brasil recomendaram que ele fizesse esse gesto. O petista não disse nem sim nem não, mas escutou atentamente o assunto, que foi tratado mais de uma vez, e por diferentes interlocutores.
Na terça-feira, 8, o próprio presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), confirmou ao PlatôBR ter falado com Lula sobre a necessidade de uma "solução" negociada entre os três poderes com o objetivo de "pacificar" o país. Motta se movimenta em busca de um entendimento nessa direção enquanto resiste à pressão do PL para pautar um requerimento de urgência para levar uma proposta de anistia para o plenário. Além de conversar com Lula, ele também procurou ministros do STF na tentativa de construir um acordo que permita aliviar as penas das pessoas condenadas pela participação nos atos de 8 de Janeiro, o chamado "andar de baixo". O foco das punições ficaria apenas na última leva de denunciados pela Procuradoria-Geral da República, o grupo formado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e por outros 33 cabeças da trama golpista.
Um gesto do presidente favorável aos responsáveis pelos ataques às sedes dos três poderes teria apoio entre governistas e oposicionistas. Aliado muito próximo do clã Bolsonaro, o líder do Novo na Câmara, Marcel Van Hattem (RS), entende a negociação como uma grande oportunidade para Lula se colocar como pacificador na política brasileira. "Lula tem mais uma chance nas mãos", disse o parlamentar. Van Hattem considera que a resposta precisa ser mais rápida. "Hugo Motta já sabe que a situação dessas pessoas é grave. Já sabe da situação. Ele precisa de uma resposta rápida. Não adianta ficar esperando o Lula pensar e ficar enrolando", criticou.
O líder do PSB na Câmara, Pedro Campos (PE), também defende a ideia de um perdão, ou graça presidencial, negociada com o STF, como um remédio mais eficaz do que a anistia, defendida pelo PL. "Uma anistia anularia os processos e não resolveria nada. Com essa proposta, o PL quer mesmo é livrar de punições a cúpula do golpe, não os que participaram dos atos e foram condenados", acrescentou. Na opinião do parlamentar de Pernambuco, é praticamente consenso na Câmara que o mérito da dosimetria das penas precisa ser discutido.