Às vésperas da data prevista para entrar em vigor o tarifaço sobre as exportações do Brasil para os Estados Unidos, autoridades brasileiras intensificam uma movimentação estratégica que sustenta a narrativa de que a intransigência em negociar comercialmente é coisa dos americanos. Ao mesmo tempo, reforçam pontos inegociáveis para o Brasil, com a soberania e o respeito à democracia. Em entrevista ao jornal New York Times, o presidente Lula destacou que está pronto para o diálogo, mas que entende que Donald Trump não está.

“O que impede isso é que ninguém quer conversar”, disse. “Todos sabem que eu pedi para fazer contato”. Com isso, também rebate críticas internas de que não teria feito nenhum gesto de aproximação com Trump desde a posse do americano, em janeiro. Na entrevista ao jornal americano, a primeira após 13 anos, Lula afirmou ainda que Trump é o único presidente dos Estados Unidos com quem não teve um bom relacionamento, desde Bill Clinton. 

Na avaliação de um integrante graduado do governo, a imprensa americana tem “dado foco correto” nas avaliações sobre o Brasil, creditando o tarifaço à articulação política em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro e destacando a ação como “uma interferência indevida”. Por isso, a importância da entrevista de Lula, neste momento, ao NYT.

Citando Lula como esquerdista e estadista latino-americano mais importante deste século, o entrevistador, Jack Nicas, enfatizou a indignação do presidente brasileiro com a tentativa de “intimidar” um país de 200 milhões de pessoas. Lula fala da frustração com o fato de a gestão Trump ignorar as ofertas para dialogar e diz que está tratando o tema “com a máxima seriedade”. “Eu trato todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito”. Segundo o presidente, “em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um pequeno país diante de um grande país” e, apesar de reconhecer o poder econômico, militar e a dimensão tecnológica dos Estados Unidos, se diz preocupado, mas, não, com medo.

As declarações de Lula ao NYT estão alinhadas com o discurso de empresários brasileiros e americanos de que os consumidores dos Estados Unidos também pagarão essa conta. Esse é um ponto que vem sendo reforçado perante a população americana. A inflação é um problema para a gestão Donald Trump, que deverá ser agravado com a entrada em vigor do tarifaço.

Em paralelo, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) vem repetidamente afirmando que está tentando fazer contato com o secretário americano Scott Bessent (Tesouro) para falar sobre a tarifa que será imposta e que a assessoria do secretário pediu “paciência” porque o secretário está na Europa fechando negociações com outros países. Já o chanceler Mauro Vieira (Relações Exteriores), em viagem aos Estados Unidos, acenou, sem sucesso, para Washington tentando iniciar a preparação de uma conversa entre Lula e Trump.