Era meio da manhã desta segunda-feira, 30, quando o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, fez uma postagem no Instagram anunciando que, entre as atividades de que participaria no penúltimo dia de 2024, estava a “posse” de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central. A informação causou surpresa porque, afinal, a posse formal estava prevista apenas para depois do dia 1º de janeiro, embora Galípolo já esteja despachando interinamente da cadeira de presidente do BC desde o dia 21, quando Roberto Campos Neto saiu em férias.
O Palácio do Planalto e o próprio BC correram para corrigir o que seria um “spoiler” do ministro. Disseram que não se trataria da posse, mas de um encontro do presidente Lula com o ministro Fernando Haddad (Fazenda) e o novo presidente do Banco Central. Até então, as agendas oficiais não detalhavam a audiência. Pouco depois, elas foram atualizadas.
De fato, não foi a posse formal de Galípolo, mas é possível dizer que se tratou de uma avant-première, uma espécie de antecipação do ato formal a ser realizado no início de janeiro. Durante o encontro, o presidente da República assinou o decreto de nomeação de Galípolo. Na prática, é um gesto que já o empodera a partir dos primeiros instantes do ano — e o coloca, de fato e de direito, na posição de comandante da política monetária.
Galípolo foi para o encontro acompanhando dos três novos diretores do BC: Nilton David (Política Monetária), Izabela Corrêa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta), e Gilneu Vivan (Regulação do Sistema Financeiro). A partir de janeiro, pela primeira vez neste terceiro mandato de Lula a maioria da diretoria do BC será composta por indicados do atual presidente — o que significa dizer que o Copom, o Comitê de Política Monetária, que define a taxa de juros, terá sete dos nove integrantes escolhidos por Lula.
A cerimônia serviu para o ministro da Fazenda reafirmar que, sob novo comando, o BC será, sim, independente — a despeito de seu novo comandante ser agora um pupilo do presidente da República, à diferença de Campos Neto, que era rotineiramente bombardeado por Lula. Campos Neto, como se sabe, foi nomeado por Jair Bolsonaro.
Haddad disse que um dos objetivos da reunião foi apresentar o trio de novos diretores ao presidente da República. “Os diretores novos ele (Lula) nomeou, mas não os conhecia. Quem entrevistou foi o Galípolo. Hoje, eles foram conhecer o presidente, na ocasião em que ele assinou os decretos de nomeação”, disse Haddad.
Tanto Haddad quanto o próprio Lula estão reforçando essa ideia em declarações recentes. No dia 21, quando também haviam se reunido, Lula afirmou que Galípolo daria uma lição de “como se governa o Banco Central com a verdadeira autonomia”.
A reunião com Lula aconteceu em um momento econômico tenso, com os juros e a cotação do dólar elevados. Nesta segunda, a moeda americana fechou em R$ 6,18. No ano, a alta ficou em 26%.