O desejo de produzir imagens ao lado do povo, que certamente servirão para a campanha à reeleição, fez com o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se expusesse ao risco de ser fotografado ao lado de uma mulher suspeita de tráfico de drogas na visita que fez à Favela do Moinho, em São Paulo, no dia 26 de julho.

Sempre que o presidente planeja uma atividade fora do Planalto, uma equipe precursora vai na frente para avaliar todos os riscos, as aberturas das vias, o posicionamento da imprensa, e planejar todo o percurso. Dois dias antes, porém, Lula discordou do planejamento feito pela equipe. Ele não aceitou a ideia de um evento para anunciar acordo habitacional com o governo de São Paulo fosse feito no Galpão Elza Soares, no Campos Elísios, próximo à favela. “Falta povo”, disse Lula para sua equipe. 

O evento foi transferido para a favela onde Lula teve contato direto com os moradores, como queria. Entre os organizadores locais estava Alessandra Moja, irmã de Leonardo Moja, o Leo do Moinho, apontado como chefe do tráfico de drogas do PCC (Primeiro Comando da Capital) no centro da capital. Alessandra foi presa nesta segunda-feira, 8, durante a Operação Sharpe, que deteve 7 pessoas acusadas de comandar o tráfico na comunidade.

“O presidente queria mais povo e assim, assumiu o risco. Não dava para imaginar que uma pessoa no palanque de Lula seria depois alvo de uma operação por suspeita de tráfico”, comentou um interlocutor do Planalto, em conversa com o PlatôBR.

O vídeo com a imagem de Alessandra Moja no palanque de Lula viralizou nas redes sociais e foi objeto de críticas de aliados do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), como o secretário de Segurança, Guilherme Derrite, que usou esse encontro de junho para cutucar Lula. “Essa criminosa que, curiosamente, recebeu um ministro do governo federal em uma ONG que, ao que me parece, é uma ONG de fachada, para articular a visita do presidente da República na comunidade”, disse Derrite, em vídeo postado nas redes sociais. O ministro que esteve com Alessandra foi Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência da República).

Em 2024, Macedo foi criticado publicamente por Lula pelo baixo público presente no 1º de maio de 2024 em São Paulo. Menos de 2 mil pessoas compareceram naquele à celebração do Dia do Trabalhador. Em discurso, o presidente disse que havia reclamado com o ministro pelo fato de o ato ter sido “mal convocado”. 

O Planalto divulgou uma nota para rechaçar as acusações de envolvimento do governo com qualquer atividade ilícita. “A única pauta tratada pelo governo federal na Favela do Moinho, no dia 25 de junho, foi a solução habitacional para as 900 famílias que residem naquela localidade”, diz o texto.

“O diálogo se deu com moradores da Favela do Moinho e sua associação comunitária, com o objetivo de ouvir os moradores, construir a saída pacífica da favela e a destinação adequada das famílias”, diz o texto. “Quanto à operação Sharpe, ela é de responsabilidade dos órgãos de segurança pública do Estado de São Paulo. E, como em toda a apuração, quem tiver cometido delito ou crime deve responder à Justiça”, acrescentou a nota.