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Lula pode anunciar nome de Gleisi para ministério em festa do partido

Enquanto negocia reforma ministerial, presidente participa no Rio de Janeiro de comemoração pelos 45 anos do partido

Deputada Gleisi Hoffmann na tribuna do plenário.
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara

A expectativa no Palácio do Planalto é de que presidente Luiz Inácio Lula da Silva dê início aos anúncios da reforma ministerial neste fim de semana. O primeiro deles, segundo aposta de interlocutores do presidente, deverá ser o da deputada Gleisi Hoffmann, presidente da legenda, para a Secretaria-Geral da Presidência da República. Auxiliares do presidente dizem que ele pretende anunciar a troca no sábado, 22, durante a participação que fará na festa de comemoração de 45 anos do PT, que ocorrerá no Rio de Janeiro.

Lula indicou a esses interlocutores que, no discurso, pretende elogiar a dedicação e a condução de Gleisi nos momentos mais difíceis do partido, entre eles a sua prisão e as denúncias da Lava Jato. Agora, precisa da permissão do PT para que ela possa ajudar o governo, dirá aos presentes na festa. Ainda há dúvida se Lula fará só o anúncio envolvendo a presidente da legenda. Uma possibilidade aventada no Planalto é que ele também anuncie mudanças na Esplanada que afetarão o PT, mas isso ainda não está fechado.

Gleisi foi uma das principais responsáveis pela campanha de Lula em 2022 e esperava ser anunciada ministra no início do governo. Lula, no entanto, deu a ela a função de ficar no partido nos primeiros anos do mandato, inclusive ordenando o aumento do tempo dela à frente da legenda. O mandato de Gleisi termina formalmente em 6 de julho deste ano. Mas, indo para o Planalto, terá que renunciar ao cargo.

Concomitantemente à reforma ministerial, Lula também dá as cartas no PT apontando para a presidência da legenda o ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Gleisi e aliados seus no partido chegaram a ensaiar uma candidatura alternativa, mas essa ideia não chegou a apresentar um nome dentro da legenda. Com sua indicação para a pasta, o assunto tende a ser sepultado e Edinho se consolida como favorito no processo de eleições direitas do partido.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), também manteve conversas sobre a possibilidade de substituir Gleisi. Nos últimos dias, porém, indicou a intenção de desistir dessa ideia, conforme adiantou o PlatôBR.

Mudanças no PT e na Esplanada
Dentre as mudanças previstas, está a possibilidade de Lula levar o atual ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para o Ministério da Saúde, no lugar de Nísia Trindade, que sairia no governo. Também se cogita no Planalto o anúncio pelo presidente de um novo o destino para Márcio Macedo, atual titular da Secretaria-Geral. Para Macedo se apresentam duas alternativas: assumir o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) no lugar de Rodrigo Agostinho, ou ir para uma instância na direção do PT.

Já para o lugar de Padilha na articulação do governo, duas hipóteses ganharam mais força nesta semana. Uma delas, uma solução doméstica, seria levar para o Planalto um dos petistas que atuam como líderes do governo no Congresso. Os nomes mais falados são o de José Guimarães ou Jaques Wagner. Porém, se Lula optar por levar o Centrão para o Planalto, o nome do atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, apareceu com mais evidência nesta semana. O presidente considera ainda colocar como um dos líderes de seu governo um deputado do centrão, caso Guimarães seja nomeado ministro da SRI, ou um senador, no caso de Wagner ganhar o cargo.

Esta é só uma das equações que Lula terá que resolver na reforma ministerial, que tem o propósito de aumentar a participação do Centrão no governo. Segundo interlocutores do Planalto, a intenção do presidente seria resolver primeiro os cargos que caberão ao PT que terá, obrigatoriamente, seu espaço reduzido na Esplanada de Lula. O presidente tem cogitado ainda a possibilidade de levar para o Ministério das Mulheres uma mulher evangélica, substituindo a atual ministra Cida Gonçalves, que enfrentou denúncias de assédio nos últimos meses.

Na fila de mudanças a serem anunciadas, estão ainda a pasta hoje gerida pelo PCdoB, partido que integra a federação com o PT e o PV. Auxiliares de Lula indicaram a substituição da ministra Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) pela deputada Tabata Amaral (PSB-SP), mudança que agradaria o PSB de São Paulo e também o de Pernambuco, base política da família de Eduardo Campos, que domina o partido nacionalmente. Os entusiastas dessa mudança são os ministros Alexandre Padilha e Fernando Haddad (Fazenda).

O anúncio do nome de Gleisi, além de dar o pontapé inicial na reforma ministerial, cumpriria outra função na participação de Lula na festa do PT. O presidente tem a intenção de que sua presença supere as divergências internas, tanto em relação às disputas nas instâncias partidárias quanto em relação  à própria reforma. Depois de anunciar Gleisi, Lula vai terminar a parte da reforma que delimita o espaço do partido. As mudanças devem atingir a Secretaria de Relações Institucionais, a Saúde e os ministérios da Mulheres, do Desenvolvimento Agrário e do Desenvolvimento Social. O ministro Paulo Teixeira é um que deve deixar a pasta do Desenvolvimento Social. Um dos cotados para assumir o posto é o gaúcho Edegar Pretto, hoje presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

Considerado as mudanças no desenho do governo, a ida do titular da SRI para a Saúde é vista por setores do PT como uma "traição" a Nísia porque o nome da ministra, que tem um perfil puramente técnico, foi avalizado por Padilha ainda nas discussões na transição de governo. Durante toda gestão de Nísia, Padilha manteve vários cargos na pasta ocupados por pessoas sob sua indicação. Além disso, o ministro tem rivais no PT, que criticam sua atuação como articulador do governo nos dois primeiros anos e acham que ele se entregou ao Centrão.

No Planalto, no entanto, Nísia sofre críticas por não ter entregue um marca de sua gestão. O presidente esperava uma divulgação mais massiva sobre o programa Mais Acesso à Especialidades. Padilha, por sua vez, daria um caráter mais político à pasta e agregaria possibilidades de interlocução do governo com setores da saúde privada, dando mais visibilidade às ações nesse momento em que Lula precisa mostrar serviço para diminuir a baixa em sua popularidade. Padilha, por sua vez, conta com o apreço de Lula. É um médico e um amigo que o acompanhou em momentos difíceis em que Lula esteve hospitalizado, na ocasião da morte de Dona Mariza Letícia e ainda na morte do neto de Lula, enquanto o petista estava preso.

 

 

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