A decisão do governo Donald Trump de aplicar tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras se tornou uma oportunidade para o presidente Lula buscar mais diálogo com o setor produtivo. Diante dos prejuízos previstos principalmente para a indústria para agronegócio, o petista tenta atuar junto com o empresariado na busca de soluções para os representantes do comércio exterior do país enfrentarem a turbulência provocada pelos Estados Unidos.
Esses setores, majoritariamente, apoiaram Jair Bolsonaro nas duas últimas eleições e contam com numerosa bancada de oposição ao governo no Congresso. Os representantes do agro, em particular, constituem uma das frentes mais coesas de combate ao Planalto e de sustentação das propostas de interesse do ex-presidente em tramitação no Legislativo. Para usar uma imagem do mundo rural, a carta de Trump abriu uma porteira para o petista buscar mais diálogo com o agricultores e pecuaristas.
O fato de o presidente dos Estados Unidos condicionar a revisão do aumento das taxas ao fim dos processos contra Bolsonaro permite a Lula dizer ao empresariado que a culpa dos prejuízos é de seu antecessor, que tem até um filho nos Estados Unidos para pedir punições contra o Brasil. Com ênfase no discurso de soberania nacional, o petista procura isolar o ex-presidente de segmentos relevantes do setor produtivo.
Nesta quinta-feira, 10, Lula fez movimentos diretos para na direção dos prejudicados pelo tarifaço. Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, o presidente disse que pretende se reunir com os maiores exportadores do país, sobretudo os produtores de suco de laranja, aço, e com a Embraer, para conversar sobre as negociações possíveis para tentar reverter o contencioso com os Estados Unidos. Se as tratativas falhares, acrescentou, o Brasil vai aplicar a Lei da Reciprocidade.
Para a TV Record, também em entrevista, o petista afirmou que vai criar um comitê com representantes do governo e do empresariado para acompanhar a crise diplomática e discutir os próximos passos a serem dados para evitar maiores danos aos exportadores. Lula indicou ainda que vai atuar junto aos países asiáticos para abrir mercados para o Brasil. Em tempo incertezas, essa é uma das ofertas que ele tem para agradar a alguns grupos que se alinham com seus adversários políticos.