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Marcos Jank: “Achar que vamos importar carne a preço competitivo é loucura”

Pesquisador e professor do Insper Agro, Marcos Jank critica medidas do governo para conter a inflação dos alimentos no país

Foto: Divulgação
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Professor do Insper Agro, Marcos Sawaya Jank conhece de agricultura e comércio exterior como poucos. Ele foi responsável por liderar a expansão da BRF na Ásia e também já exerceu o cargo de presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Hoje, olhando de fora, Jank acredita que o governo Lula tem cometido erros na tentativa de encontrar soluções para a inflação dos preços dos alimentos no país.

O governo anunciou a zeragem das alíquotas para a importação de uma série de itens, como carne, café, açúcar e milho. Jank entende que a medida pouco fará diferença para a conta final dos consumidores, uma vez que o processo de importação é algo que pode levar meses, dependendo das categorias de produtos. “Achar que vamos importar a preços competitivos com o que é produzido no Brasil é uma loucura”, disse ele à coluna.

“A maioria dos países pratica preços mais altos que o Brasil domesticamente, fora que terá um custo para trazer o produto, suscetível à variação cambial… Isso vai demorar alguns meses para chegar no país. Portanto, se você agregar a isso a logística, câmbio, burocracia e a possibilidade de atrasos, terá um efeito muito baixo no controle da inflação”, reforçou.

Para Jank, a solução para a inflação dos alimentos está em trazer mais estímulos para que a indústria agrícola possa produzir mais, mas as medidas estudadas pelo governo Lula vão de encontro a isso. Ele também aposta que haverá uma supersafra que, em condições normais, fará com os preços dos alimentos caiam no segundo semestre no país.

“A solução é estimular o mercado a produzir mais aqui dentro do país”, disse ele. “O governo tem falado em duas ideias infelizes. Além dessa de tentar importar produto que é exportado, o que não faz o menor sentido, a segunda ideia é taxar a exportação, que é justamente o que garante uma maior produção.”

A ideia de taxar a exportação de commodities agrícolas gerou um impasse não só no mercado como dentro do governo Lula. Alguns chegaram a cogitar que a aprovação do imposto levasse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, a pedir demissão.

Jank lembra que um dos fatores que levou o agronegócio brasileiro a ganhar tanto destaque no mundo nos anos 2000 e 2010 foi o anúncio de taxações do governo argentino durante o governo Kirchner. “A crise da Argentina por conta do imposto na exportação fez a gente ganhar muito mercado e crescer em produção de grãos e carnes.”

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