A pausa na chacoalhada mundial provocada pela guerra comercial de Donald Trump é, também, o momento em que o mercado financeiro começa a estimar os prejuízos do ano. A safra de balanços de grandes instituições financeiras americanas no primeiro trimestre, iniciada na última sexta-feira, 11, é um ponto de partida. Menos pelos números em si, já que o período ainda não reflete o impacto do tarifaço americano e, mais, pelas análises do que se espera do futuro que acompanham esses resultados.
O cenário internacional e o impacto que a política protecionista de Trump pode ter sobre exportações e importações, crescimento e inflação são dados importantes para o Banco Central definir o rumo da taxa de juros aqui no Brasil. A próxima reunião do Copom, o comitê que define a trajetória da política monetária, ocorrerá em menos de um mês, nos dias 6 e 7 de maio.
O governo brasileiro segue temeroso em relação à capacidade de o BC desinflacionar a economia sem que isso gere uma recessão no país. De um lado, o Palácio do Planalto tem claro que a alta generalizada de preços, sobretudo tudo de alimentos, está contribuindo para a avaliação negativa da gestão do presidente Lula nas pesquisas de opinião e, por isso, precisa ser combatida. Do outro, o mercado financeiro considera que a reunião do Copom de maio será o primeiro teste para avaliar o compromisso da nova gestão do BC, majoritariamente indicada pelo presidente Lula, com a meta de inflação.
Apesar de ter assumido oficialmente o cargo de presidente da autoridade monetária em janeiro, Gabriel Galípolo e os diretores da instituição já chegaram com um ciclo de três pontos percentuais na taxa básica de juros anunciado antecipadamente e iniciado em dezembro. Na época, Galípolo era diretor de Política Monetária na equipe do ex-presidente Roberto Campos Neto.
Uma análise do IPCA, índice referência para o governo, de março mostra que a alta de 0,56% no mês está distribuída em todos os nove grupos de preços que integram o indicador. O destaque, mais uma vez, ficou com alimentação e bebidas (elevação de 1,17% no período), responsável por quase metade do IPCA mensal. O ovo de galinha segue na lista dos vilões. O produto, que carrega toda uma simbologia já que costuma ser a alternativa quando há aumento em outras proteínas tradicionais, como a carne, subiu 13,13%. O 13 é justamente o número de registro do PT, partido do presidente Lula, nas urnas. Mas não foi o único, o café moído teve alta de 22,55% e, o tomate, de 8,14%.
Em 12 meses, a inflação está acumulada em 5,48%, bem acima do centro da meta que o BC deve mirar ao calibrar a política de juros (3%) e até mesmo do teto permitido (4,5%).
Estados Unidos
O CEO do J.Morgan, Jamie Dimon, em carta que acompanha as demonstrações financeiras da instituição, divulgadas na sexta-feira,11, alertou para riscos inflacionários no curto prazo com desaceleração do crescimento nos Estados Unidos. Além disso, chamou atenção para o fato de que o tarifaço de Trump pode fragmentar alianças militares e econômicas de longo prazo do ocidente e, se isso se confirmar, “a própria América inevitavelmente enfraqueceria como tempo”, segundo destacaram agências de notícias internacionais.
Já um documento elaborado pelos analistas do banco, tratando especificamente do Brasil, destaca um crescimento menor para 2025 (1,9% ante 2,2% anteriormente) e avalia que as chances de uma recessão mundial são de 60%, puxada por forte desaceleração nos Estados Unidos.
O crescimento brasileiro pode ser mais afetado, alertam os analistas, se houver um estresse maior no sistema financeiro. Para o banco, o choque externo se somará a fragilidades internas da economia brasileira, provocando uma recessão no segundo semestre. O impacto da taxação de 10% das vendas do Brasil para os Estados Unidos, que deverá prevalecer pelos próximos 90 dias, no mínimo, pelos cálculos dos analistas do J.P Morgan, deverá ser de apenas 0,3 no PIB brasileiro. Além de ter uma baixa exposição aos Estados Unidos, o Brasil poderá ganhar com oportunidades em novos mercados.