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Mercado não é a Faria Lima, diz Campos Neto ao negar ataque especulativo

Seguindo a mesma linha, Gabriel Galípolo diz que visão de uma ação coordenada para desvalorizar o real não corresponde ao que acontece hoje no Brasil

O presidente interino do Banco Central, Gabriel Galípolo durante apresentação do relatório de Inflação do 4º trimestre, ao seu lado Roberto Campos Neto
Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

O Banco Central tentou conter o estresse na abertura do mercado de câmbio nesta quinta-feira, 19, vendendo US$ 3 bilhões, mas a demanda foi muito maior do que isso e a autoridade monetária despejou mais US$ 5 bilhões. Segundo o presidente Roberto Campos Neto (Banco Central), isso não significou nenhum compromisso com um determinado patamar para a taxa de câmbio, mas uma atuação para “contrabalancear o fluxo”.

Na sua última entrevista coletiva à imprensa como presidente do Banco Central, Campos Neto destacou que existe um fluxo de saída de dólares neste final de ano que é atípico. Parte atende a movimento sazonais de empresas e de remessa de dividendos para as matrizes, conforme destacou o PlatôBR, mas há também uma saída forte de pessoas físicas. “Não tem interesse do Banco Central em defender nenhum nível de câmbio”, garantiu.

Segundo Campos Neto, até as remessas de dividendos, comuns no período, estão acima das estimativas feitas pelos técnicos do Banco Central a partir do lucro registrado até agora. Ele disse que o BC percebeu que o fluxo financeiro de saídas de moeda estrangeira está apontando para um dos piores anos da história recente.

Como mostrou o PlatôBR, nos 13 primeiros dias de dezembro, o saldo do mercado de câmbio ficou negativo em US$ 6,8 bilhões, valor que corresponde a mais de 80% do ganho registrado nesse mercado entre janeiro e novembro (US$ 8,4 bilhões).

“Vimos saídas também de pessoas físicas e de plataformas com volumes menores de operação”, explicou. “Quando a gente identifica isso, tenta fazer uma intervenção que contrabalanceie o fluxo.” E completou: “Não há nenhum desejo do BC em proteger nenhum nível de câmbio. O BC tem muita reserva e vai atuar se for necessário e entendemos que tem um fluxo atípico grande”.

Apesar do movimento acima do normal, Campos Neto nega que o país viva um ataque especulativo. Isso ocorre quando investidores em moedas que estão vulneráveis vendem suas posições, obrigando o governo a vender reservas para compensar as perdas e evitar que sua moeda perca valor. Segundo ele, o movimento atual inclui ainda a busca por seguro (hedge) de empresas produtivas instaladas no Brasil.

“O mercado não é a Faria Lima (avenida de São Paulo que concentra instituições financeiras de investimento)”, argumentou. “Empresa que faz importação, exportação, empresa que tem operação estruturada, que está comprando um terreno, uma máquina também tem preocupação com juros e câmbio porque isso faz parte do fluxo de caixa que ela montou para fazer aquela operação.”

Não há especulação
Endossando a avaliação, o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, enfatizou que “não é correto tratar o mercado como um bloco monolítico, como se fosse uma coisa só, coordenada”. Ele lembrou que o mercado funciona com posições contrárias, em que uns compram e outros vendem. “Toda vez que o preço do ativo se move numa direção, tem vencedores e perdedores.” Por isso, Galípolo defendeu que “a ideia de ataque especulativo de forma coordenada não representa bem o que está acontecendo do mercado hoje”.

O dólar bateu mais um recorde nesta quinta-feira, 19, ao ser negociado a R$ 6,30 logo após a abertura do mercado e refletiu, também, a dificuldade do governo em aprovar as medidas de contenção de gastos na noite anterior. O BC interveio e, logo após, a cotação recuou para R$ 6,10, queda reforçada também pela fala coordenada de Galípolo e Campos Neto.

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