A decisão assinada pelo ministro Alexandre de Moraes nesta sexta-feira, 18, adicionou um novo capítulo ao cerco judicial que avança sobre Jair Bolsonaro. Em 47 páginas, o ministro ampliou de forma inédita o controle sobre a rotina do ex-presidente, com medidas que não apenas restringem deslocamentos e contatos, mas atingem diretamente sua capacidade de articulação política.

Se antes Bolsonaro já enfrentava limitações — como o passaporte retido e ordens para não manter contato com alguns alvos da investigação —, agora a vigilância passa a ser física e constante, por meio da tornozeleira eletrônica. E, pela primeira vez, sua presença pública também sofre restrições concretas: a partir de agora, não poderá sequer sair de casa no período noturno, além de ver ampliada a lista de pessoas e ambientes dos quais ele deve permanecer distante.

O peso político das novas travas
Nos últimos meses, Bolsonaro vinha apostando em gestos simbólicos: reuniões com políticos, aparições ao lado de apoiadores e gravações de vídeos para públicos internacionais. A nova decisão fecha esse circuito, impondo um recolhimento noturno e monitoramento contínuo, o que na prática dificulta deslocamentos e reduz ainda mais sua capacidade de articulação.

Agora, a movimentação de Bolsonaro tende a ser substituída por uma estratégia virtual indireta, via aliados, e pela narrativa da vitimização. Com menos mobilidade, o ex-presidente se vê obrigado a reorganizar sua presença na cena política. Enquanto isso, setores do PL tentam manter viva a militância e debatem internamente os riscos de manter Bolsonaro como principal ativo eleitoral.

Um cerco em camadas
Desde que se tornou réu no caso da tentativa de golpe, Bolsonaro acumulava restrições, mas ainda mantinha uma rotina relativamente ativa. A decisão desta sexta fecha o cerco em camadas: reforça a retenção do passaporte já determinada anteriormente, proíbe contatos com investigados, incluindo seu filho Eduardo, e limita o alcance de interlocução internacional, com o veto explícito a relações com diplomatas e representações estrangeiras.

O efeito das medidas expedidas nesta sexta-feira é Bolsonaro mais isolado física e politicamente, sob vigilância e com menos instrumentos para pressionar instituições ou mobilizar ruas. Nos bastidores, cresce o debate sobre como a direita se reorganiza: enquanto adversários veem a decisão como um freio definitivo, aliados apostam que a nova fase judicial pode alimentar o discurso da perseguição e manter Bolsonaro como símbolo para as próximas disputas.