Ao mesmo tempo que os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), com apoio dos governistas e do Centrão, trabalham para baixar a temperatura no Congresso, a oposição continua investindo em manter o ambiente político inflamado, em sintonia com as articulações nos Estados Unidos do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do empresário Paulo Figueiredo. Nesta semana, paira no Congresso a expectativa de que tanto Motta quanto Alcolumbre possam, a qualquer momento, se tornar alvo da Lei Magnitsky, a mesma aplicada pela Casa Branca ao ministro Alexandre de Moraes, relator no STF do processo que investiga o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) por tentativa de golpe de Estado.

A pressão sobre os dois é motivada pelo interesse dos bolsonaristas em ver pautada por Motta a proposta conhecida como fim do foro privilegiado e o projeto de anistia dos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro. De Alcolumbre, eles esperam a votação do pedido de impeachment de Moraes. Eduardo e Figueiredo foram a Washington na quarta-feira, 13, para se reunirem com autoridades do governo americano e discutirem possíveis sanções ao Brasil ou a autoridades brasileiras.

Antes dos encontros, em entrevista à BBC News Brasil, Eduardo citou nominalmente Motta e Alcolumbre ao falar sobre a possibilidade de novas punições com base na Lei Magnitsky. “Eles já estão no radar”, afirmou o filho de Bolsonaro.

Embaixadas
Enquanto aguarda decisões do governo americano, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), também prometeu dar início a uma cruzada pelas embaixadas em Brasília. Pelas redes sociais, Sóstenes disse que entregará, nos próximos dias, em todas as representações, uma carta de denúncia sobre o que chamou de “graves violações de direitos humanos, da democracia, da liberdade de expressão e do Estado de Direito”.

“O documento apresenta à comunidade internacional, de forma clara e fundamentada, casos concretos de prisões arbitrárias, censura institucional e perseguição política, que violam a Constituição e tratados internacionais de proteção aos direitos humanos dos quais o Brasil é signatário”, disse. “A carta demonstra como essas práticas comprometem a separação dos Poderes, enfraquecem as garantias individuais e instauram um perigoso precedente de exceção, que ameaça a integridade do processo democrático e as liberdades civis”, postou o líder do PL. “O mundo precisa saber a verdade. E nós não vamos nos calar”, acrescentou o líder.

Na noite de quarta-13, Motta decidiu adiar a reunião de líderes que, comumente realizadas nas quintas, para a terça-feira, 19, mais um esforço para esfriar os ânimos. Ao contrário do pleito bolsonarista, o esforço de Motta agora é no sentido de focar a pauta da Câmara nas matérias econômicas e nas propostas para frear a exploração de crianças e adolescentes nas redes sociais.

Alcolumbre não falou mais sobre a possibilidade de pautar o impeachment. Desde os dias em que a oposição ocupou sua cadeira de presidente, mandou avisar que não faria acordo e que nem com assinaturas dos 81 senadores da Casa levaria o impeachment de Moraes para a pauta.