Com a deflação de 0,14% apontada no IPCA-15 deste mês de agosto, houve dúvidas se a Selic, taxa básica de juros do país, seria mantida em 15% até o fim deste ano. E o mercado entende que sim. A projeção de economistas ouvidos pela coluna é de que cortes são projetados apenas a partir de 2026.

O fator que reforça a cautela é a mudança na composição da diretoria colegiada do Banco Central. Os mandatos de Renato Dias de Brito Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução) e Diogo Abry Guillen (Política Econômica) terminam em 31 de dezembro. Ambos foram indicados ainda no governo Bolsonaro e estão entre os últimos da atual composição do Copom, que revisa periodicamente a Selic. A substituição desses cargos abrirá espaço para novas nomeações de Lula.

“Um diretor em fim de mandato não tende a antecipar riscos, e quem entra provavelmente preferirá esperar para ganhar credibilidade antes de votar pela queda dos juros”, avalia Lucas Farina, economista da Genial Investimentos.

O especialista destaca ainda que os núcleos da inflação do país permanecem pressionados, principalmente em serviços.

“A inflação cheia surpreendeu, mas foi influenciada por fatores temporários, como o bônus de Itaipu”, afirma.

Para Farina, a recente valorização do real frente ao dólar tem sido determinante na desaceleração dos preços — mais até do que o aperto monetário.

“O câmbio está carregando o processo desinflacionário. A política monetária ainda não mostrou efeito claro sobre os núcleos”, conclui.