Uma situação bizarra, nunca vista nas últimas décadas. Esta é a primeira definição para as cenas na Casa Branca, em que Trump chegou a colocar o dedo em riste e a empurrar o braço de Zelensky, nesta sexta-feira, 28. O presidente da Ucrânia foi humilhado pelo presidente americano e seu vice, J.D. Vance, no Salão Oval, ao vivo, diante da imprensa.
Quem sai ganhando com o episódio?
"Tranquilamente, a gente está olhando para o melhor momento da política russa nos últimos três, quatro anos, tranquilamente", analisou à coluna o professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ Fernando Brancoli.
“As falas de Trump e de J.D. Vance são muito parecidas e próximas com a narrativa oficial da Rússia ao longo dos últimos, pelo menos, três anos, de que um acordo tem que ser estabelecido, e esse acordo necessariamente vai implicar que a Ucrânia perca territórios e que, de alguma maneira, ela é também responsável pela guerra, porque teria, de alguma forma, incentivado a invasão russa ou algo parecido”, disse o professor.
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Brancoli considerou o episódio um "desastre diplomático" e mais uma demonstração de como Trump negocia com aliados ou rivais, sempre fazendo uso do discurso emocional.
O professor analisa que Zelensky ficou muito humilhado mas que chegou aos Estados Unidos para “botar fogo no parquinho”.
“Foi uma maneira de dizer: olha, não vai ter negociação mesmo, não vai ter conversa, os europeus têm que entrar, eles têm que se posicionar ou não tem muito o que fazer”, analisou.
Pode ser uma estratégia de empurrar, de certa forma, os europeus a ocupar o lugar dos Estados Unidos, afirmou o professor.
“Porque, se tinha alguma dúvida nas capitais europeias, em Bruxelas, em Paris, de que Trump, de alguma maneira, poderia servir de mediador nesse processo, me parece que a situação de hoje deixa claro que os Estados Unidos têm um lado na hora de encerrar o conflito e esse lado leva muito mais em consideração as perspectivas russas."
Assim, se para a Ucrânia esse episódio na Sala Oval foi ruim, para a Otan é "uma notícia terrível”: "Para parceiros tradicionais, como no contexto da União Europeia, é uma mensagem muito ruim.”
Brancoli explicou:
"A ideia é que você não consegue prever o que o Trump vai fazer e que ele não é alguém com quem você possa ter planos a longo prazo. Não à toa, praticamente todos os líderes europeus nos últimos dias estão dizendo que a Europa tem que voltar a ter independência de segurança, porque depende muito dos Estados Unidos."