Último governador que restou ao PSDB após a revoada de Eduardo Leite e Raquel Lyra ao PSD, Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, é um exemplo eloquente da falta de um norte político bem definido ao tucanato.

Riedel governa o estado com um arco de alianças que vai do PL ao PT, passando por todos os partidos do Centrão. O tucano valorizou essa excêntrica mistura ao ser entrevistado no “Roda viva”, em fevereiro. “Às vezes a gente tem uma agenda real do Brasil que fica submersa diante desses conflitos ideológicos”, disse ao explicar sua base aliada.

Em um estado com forte apelo bolsonarista, no entanto, Riedel naturalmente defende pautas caras a esse eleitor. A anistia aos golpistas do 8 de Janeiro, por exemplo. A aprovação do texto no Congresso seria, na avaliação dele, “um passo essencial para a pacificação do país”, palavras que geraram alguma crise na porção petista de sua base aliada.

Em 2022, quando Riedel foi eleito, o apoio de Jair Bolsonaro foi a um adversário dele, Capitão Contar, do PRTB. Embora o PL apoiasse formalmente o tucano, Contar recebeu endosso de Bolsonaro em grande estilo: em pleno debate presidencial da TV Globo, às vésperas do primeiro turno. O apoio de Bolsonaro catapultou Contar ao segundo turno.

Vencida a eleição, a opção de Bolsonaro não afastou Riedel do PL durante seu governo, muito pelo contrário. O partido, aliás, é um dos cotados para receber a filiação do governador caso se concretize a provável saída dele do PSDB. Riedel e o ex-governador Reinaldo Azambuja, seu principal aliado, devem ter uma reunião com Valdemar Costa Neto em Brasília até o fim do mês.

O outro destino possível, visto como mais plausível por líderes políticos do estado, é o PSD de Gilberto Kassab, nova casa dos governadores ex-tucanos Leite e Lyra. Nesse caso, Kassab terá absorvido todos os governadores eleitos em 2022 pelo PSDB e fará chegar a cinco o número de estados governados por pessedistas — maior número de um partido individualmente, sem considerar a federação União Brasil-PP, com seis.