Encarregado da tarefa de conduzir a reação do governo federal ao tarifaço anunciado por Donald Trump, o vice‑presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento e Comércio, comentou a nova investigação comercial aberta por Washington contra o Brasil e afirmou que o país não aceitará que questões políticas interfiram nas disputas econômicas.

Ele se pronunciou após reunião com a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, a Amcham Brasil, no segundo dia de encontros do governo Lula com representantes do empresariado para debater os impactos da ofensiva americana.

À sua maneira, Alckmin subiu o tom e disse não ver sentido nos pontos incluídos pelo governo dos Estados Unidos na investigação que mira supostas “práticas concorrenciais injustas” do Brasil. A apuração, baseada na Seção 301 do chamado Trade Act, lista comércio digital, etanol, propriedade intelectual e desmatamento ilegal. Até a adoção do Pix é mencionada como prática desleal.

“Se questionarem desmatamento, o desmatamento está em queda. Aliás, o Brasil é hoje exemplo para o mundo: nós temos a maior floresta tropical do mundo, que é a floresta amazônica, e estamos com desmatamento ilegal zero, reflorestando, recompondo a floresta com recursos do Fundo do Clima. Fomos o primeiro país do mundo a ter mercado regulado de carbono, temos a Lei do Combustível do Futuro, que agora, dia 1º de agosto, entra em vigor. O etanol sobe para 30% para ajudar a questão ambiental, o biodiesel vai para 15%. O mundo não tem energia elétrica 86% renovável como o Brasil tem”, disse o vice-presidente.

Na mesma resposta, citando cada um dos pontos principais da investigação comercial norte-americana, ele emendou: “O Pix é um modelo de sucesso. Na propriedade intelectual, o INPI (instituto responsável pelos processos sobre propriedade intelectual no Brasil) levava sete anos para registrar uma patente, caiu para seis, para cinco, para quatro… No final do ano deve chegar a três anos, e no ano que vem a dois anos, que é o padrão internacional. Então nós temos que mostrar tudo isso. Não tem justificativa para tarifa. Quem aplica tarifa perde, perde competitividade, e atinge interesses coletivos.”

Alckmin foi conciso ao mencionar o Pix, sinalizando um cuidado especial com o assunto para evitar o risco de interpretação equivocada – como o tema é de grande apelo popular, qualquer passo fora do lugar pode impactar diretamente na popularidade do governo e de seus integrantes.

“O segundo maior superávit que eles (os Estados Unidos) têm é com o Brasil. Se cai o comércio, eles vão perder. (O Brasil é) um dos poucos países onde eles têm um superávit importante. Então, não tem lógica. Por isso, o empenho para resolver”, disse o vice.

Carta e investigação
Em carta publicada no último dia 9 de julho, Donald Trump determinou a aplicação de tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, citando vantagens que o Brasil teria na relação comercial entre os dois países e inclui, entre as justificativas para a medida, as investigações contra o ex‑presidente Jair Bolsonaro. Na sequência do anúncio, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) formalizou nesta terça-feira, 15, a abertura da investigação comercial.

Na entrevista após o encontro com a Amcham, Alckmin destacou que os temas da investigação já constavam de uma proposta enviada pelo Brasil a Washington em maio, e que o governo americano ainda não respondeu, apesar da urgência. “Queremos negociação, e que ocorra por via do diálogo, não por meio de medidas unilaterais”, reforçou. Apesar do tom firme, Alckmin manteve a porta aberta para um entendimento rápido. “Queremos resolver isso nos próximos dias”, disse. Ele lembrou que empresas americanas que operam no Brasil também perdem com o tarifaço.

Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil, observou que 10 mil empresas brasileiras exportam para os Estados Unidos, gerando 320 mil empregos diretos. Em nota conjunta com a US Chamber, que também reúne empresas que atuam nos dois países, ele alertou: “O aumento de tarifas traria consequências severas para a economia brasileira e também para a americana”.

A mobilização do setor privado, frisou Alckmin, é fundamental para evitar que a disputa comercial se transforme em uma guerra tarifária com efeitos de longo prazo sobre o agro, a indústria e o comércio digital.