A ressaca da aprovação pela Câmara do PL Antifacção provocou reação nas redes sociais tanto de Lula quanto do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que rivalizam em relação ao tema. No início da tarde, Lula disse em postagem que a proposta, da forma que foi aprovada pela Câmara, “enfraquece o combate ao crime e gera insegurança” jurídica. “Trocar o certo pelo duvidoso só favorece quem quer escapar da lei”, afirmou Lula.
Lula criticou o ponto que retira recursos da PF. “O compromisso do governo do Brasil é com uma agenda legislativa que fortaleça as ações da Polícia Federal, garanta maior integração entre as forças de segurança e amplie o trabalho de inteligência para enfrentar as facções nos territórios onde elas tentam se impor, mas especialmente para atingir as estruturas de comando que sustentam e financiam seus crimes”, disse. “Estamos do lado do povo brasileiro e não abriremos mão de combater de verdade toda a cadeia do crime organizado”, postou Lula.
Menos de duas horas depois, Motta reagiu sem citar o presidente, mas criticando o governo que, segundo seu entendimento, “optou pelo caminho errado” ao não apoiar o texto apresentado pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), que a pedido de Motta deixou o cargo de secretário de Segurança do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo, para relatar a proposta.
“Não se pode desinformar a população, que é alvo diariamente do crime, com inverdades. É muito grave que se tente distorcer os efeitos de um Marco Legal de Combate ao Crime Organizado cuja finalidade é reforçar a capacidade do Estado na segurança pública. Não vamos enfrentar a violência das ruas com falsas narrativas. Precisamos estar unidos neste momento. O governo optou pelo caminho errado ao não compor essa corrente de união para combater a criminalidade. Repito: segurança não pode ser refém de falsas narrativas”, enfatizou o presidente da Câmara.
“Inimigo do povo”
Motta enfrenta críticas de governistas desde que escolheu Derrite relatar a proposta enviada pelo Planalto ao Congresso, em meio às repercussões sobre a operação de combate ao Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, que terminou com 121 mortes.
A indicação provocou um clima de desconfiança de Lula e de seus auxiliares em relação a Motta, que estava em um processo de reaproximação com o governo, após os episódios de derrubada da cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e da perda da medida provisória 1303, que garantia receitas para os cofres da União.
Nesta quarta, depois de a Câmara aprovar o texto, a expressão “Congresso inimigo do povo”, temida por Motta, voltou ao topo do X (ex-Twitter). O entorno do presidente da Câmara identifica que perfis alinhados ao PT como responsáveis por uma campanha orquestrada contra Motta.
Essa não é primeira vez que a expressão vem à tona. Em setembro deste ano, ela também ganhou tração quando Motta insistiu em pautar na Câmara a proposta que limitava o poder dos tribunais e da polícia em investigações contra deputados e senadores, chamada de PEC das prerrogativas por parlamentares, mas de PEC da Blindagem, nas manifestações de rua que se seguiram.
