Desde setembro do ano passado, quando começou a subir juros para tentar conter a alta generalizada dos preços, o Banco Central vive uma queda de braços com o mercado financeiro. Analistas, economistas e investidores resistem a acreditar na capacidade de a instituição fazer a inflação oficial, o IPCA, convergir para meta de 3% ao ano, no longo prazo. Isso, apesar de os diretores do BC terem promovido sucessivas altas nos juros básicos da economia, a Selic, que acumula elevação de 3,75 pontos percentuais em sete meses.

Em jogo está a credibilidade da atual gestão, comandada por Gabriel Galípolo, que já era diretor da instituição no ano passado. Ele assumiu a presidência no início de 2025 ao lado de três novos diretores indicados pelo presidente Lula. Com isso, é a primeira vez que o atual governo tem maioria na cúpula da autoridade monetária. E isso se deu após um desgaste público da instituição diante das críticas feitas pelo governo, principalmente por Lula, ao ex-presidente Roberto Campos Neto.

Apesar de um discurso de continuidade e de uma transição que permitiu a Galípolo, antes mesmo se ser oficializado no cargo, atuar como presidente em momentos estratégicos como a reunião do Copom, o comitê que decide o rumo dos juros no país, o mercado ainda resiste em ceder.

No período acumulado de 12 meses, o IPCA está em 5,48%, quase o dobro de meta de 3% ao ano. Os dados divulgados pelo IBGE mostram elevações em todos os novo grupos de produtos e serviços que compõem o índice. Com a inflação no curto prazo longe de meta fixada pelo governo, as projeções do mercado financeiro para os preços no futuro (final de 2026 e 2027) seguem em alta. O problema é que expectativas de alta de preços no futuro acabam alimentado a inflação no momento presente. Os diretores do BC têm reiteradamente destacado a resistência das expectativas, o que faz com que o país tenha que conviver com juros altos por mais tempo.

Em setembro de 2024, quando o Copom iniciou o atual ciclo de elevação dos juros, as projeções coletadas no mercado financeiro apontavam para um IPCA de 3,61% em 2026 e de 3,50% em 2027. A Selic passou de 10,5% ao ano para 11,25% em duas reuniões do Comitê de Política monetária (setembro e novembro) e as previsões para inflação de longo prazo seguiram em alta, chegando, no início de dezembro, em 4% para 2026 e 3,58% para 2027.

O BC anunciou um choque de juros, divulgando antecipadamente que faria três altas consecutivas na Selic: uma em dezembro, outras em janeiro e em março. Ainda assim, no final de janeiro de 2025 o mercado estimava que o IPCA chegaria a 4,28% ao ano no último ano da gestão do presidente Lula e em 3,90% ao ano, em 2027. No final de março, nova alta nas projeções para 4,50% ao ano e 4% ao ano, respectivamente. “Se a expectativa era aumentar a confiança no Banco Central e na capacidade de retomar a meta de inflação, o choque de juros foi um erro”, avalia um analista de mercado. “A reputação do BC não melhorou e ele ficou refém do humor do mercado”, diz, ressaltando que esse é o maior erro da atual gestão.

“O banco central se colocou numa sinuca de bico”, avalia o diretor de um banco estrangeiro. Para ele, o Copom está à reboque do mercado quando ele deveria estar guiando todo mundo. Nas últimas semanas, o BC até conseguiu desfazer os ruídos gerados e pacificar as apostas de alta nos juros no curto prazo. Mas, as expectativas futuras de inflação continuam desalinhadas, dificultado a vida dos diretores do Copom. Nesta quarta-feira, 7, o Copom encerra sua reunião mensal e o mercado aposta em nova alta na taxa Selic.